A PUNIÃO DISFARÇADA NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS. SEUS MÉTODOS SÃO PUNITIVOS?

Mãe conversando com a filha mostrando a mão para ela

Ao acompanhar e ouvir pais me relatando sobre os “métodos” que usam para disciplinar seus filhos, a “consequência” está sempre na lista.

Normalmente essa consequência é o que chamamos na Disciplina Positiva de Consequência Lógica. Nós adultos criamos as consequências e dizemos às crianças: se você não me obedecer, você vai sofrer tal consequência!” Essa tal consequência costuma ser a perda de algum brinquedo, ou de um tempo brincando, ou de um passeio, ou até mesmo um castigo.

No final das contas, se pararmos para refletir, a consequência se forma a partir de uma ameaça e finaliza com uma punição. Muitas vezes nem parece que é ruim, ou que é uma punição, pois soa “bonzinho” quando não gritamos ou quando não batemos. Soa tudo bem porque afinal de contas “as crianças precisam aprender que a vida tem consequências”.

Mas aí é que está, a vida tem consequências naturais e não consequências inventadas por nós adultos.

A nossa Consequência Lógica, só faz sentido para nós adultos porque a gente se fortalece na ameaça. A gente entra na disputa de poder. A gente acredita que essa é a única maneira de fazer com que as crianças façam aquilo que a gente quer. Porque elas não querem perder.

Mas, deixa eu te contar, as crianças são capazes de fazer muitas coisas sem ameaça também. Elas são capazes de fazer coisas quando se sentem encorajadas. Elas são capazes de entender que a consequência de sair sem um guarda-chuva é se molhar na chuva, e essa é uma consequência natural da vida. Ninguém pode fazer nada pra mudar isso. Simplesmente acontece, e a gente entende e no próximo dia, ou talvez depois de alguns dias se molhando um pouco, a gente sai com guarda-chuva porque não quer se molhar. As coisas estão conectadas, sair se guarda-chuva e se molhar. Não é algo inventado como por exemplo, “se não comer o almoço vai ficar sem o passeio da tarde.”

O que é que o fato de não comer tem a ver com o passeio da tarde? Essa é uma consequência inventada entende, uma Consequência Lógica.

Na nossa Consequência Lógica as coisas não estão conectadas: “se você não guardar os brinquedos não vai assistir televisão.” Os brinquedos e a TV não se conectam, não fazem parte de uma consequência natural e eu poderia dar vários outros exemplos de consequências lógicas que só são lógicas para gente, mas eu acho que você já entendeu.

“As crianças veem as consequências lógicas como punição disfarçada.” (Rudolf Dreikurs)

O que será que nós decidimos sobre nós mesmos quando somos ameaçados?

  • Talvez eu seja má ou sem valor porque eu mereço perder isso.
  • Talvez seja melhor fazer porquetenho medo do que pode acontecer depois.
  • Talvez eu não seja bom o suficiente, preciso agradar essa pessoa para me sentir bom ou amado.
  • Talvez eu esteja sendo injustiçado e não vou deixar isso acontecer novamente.

Acredito que todos nós adultos reconhecemos que já sentimos tudo isso que está descrito acima pelo menos uma vez na vida quando fomos punidos.

Raramente após sentir e decidir sobre nós mesmos o que relatei, nós focamos em como seria solucionar aquele problema que gerou a punição ou a consequência.

Ficamos tão focados na consequência que nos perdemos na solução.

Percebo que para nós adultos é muito difícil abrir mão das consequências e ameaças.
Quando começamos a descobrir a Disciplina Positiva nos sentimos muito animados e dispostos a abrir mão de punições como gritos, castigos, cantinho do pensamento (em breve escrevo só sobre esse assunto) e palmadas. Mas ao tirar tudo isso do nosso repertório ainda nos agarramos às ameaças porque muitas vezes não temos mais nenhum recursoNão sabemos mais o que fazer para as coisas funcionarem bem, e a ameaça parece resolver algumas situações ali no calor do momento. Afinal de contas, também usaram com a gente, e é muito difícil não repetir esse padrão.

Mas é possível, aliás, cada dia que passa eu vejo mais e mais adultos criando novas estratégias, experimentando as mais de 50 ferramentas da Disciplina Positiva, usando sua criatividade, empatia, paciência, e resiliência para quebrar esse padrão.

Não é fácil, mas é possível.

Não é todo dia que a gente vai conseguir quebrar esse padrão, mas podemos acordar decidindo experimentar. Não precisamos ser perfeitos, mas podemos tentar ser melhores. Não precisamos nos culpar pelos nossos erros, podemos focar nas soluções (assim como estamos buscando fazer com as crianças). Podemos seguir em frente, com dignidade e respeito, por nós mesmos, e por elas.

Com amor,
​Mari.

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3 respostas

  1. Nossa eu achei fantástica essa sua explicação sobre consequências… Como nos pais não conseguimos enxergar isso? Lógico! Tv não tem nada a ver com brinquedos, almoço não tem nada a ver com parquinho , e por aí vai… Muito obrigada!

    1. Interessante, mas os pais não precisam entrar na neura e se cobrarem muito para serem perfeitos, acertar todos os erros que fizeram com eles… a consequencia desta postura pode ser pior do que negociar um passeio!!

  2. Interessante, mas os pais não precisam entrar na neura e se cobrarem muito para serem perfeitos, acertar todos os erros que fizeram com eles… a consequencia desta postura pode ser pior do que negociar um passeio!!

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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