O QUE É A DISCIPLINA POSITIVA?

família correndo de mãos dadas

Muitas pessoas se surpreendem quando ingressam no caminho da disciplina positiva. Isso porque ainda existe um senso comum sobre esse conceito. A maioria das pessoas que ainda não tiveram oportunidade de imergir no universo da disciplina positiva acreditam que se trata, simplesmente, de criar as crianças sem limites, com permissividade e sem regras.

Mas não é bem isso. Aplicar a disciplina positiva é simplesmente educar com respeito, estabelecendo sim limites mas com conexão verdadeira e laços de amor e confiança mútua com as crianças. Se você ainda não sabe o que é disciplina positiva e deseja iniciar o aprendizado sobre essa forma de educar as crianças, saiba que está no lugar certo!

Vem comigo nessa linda jornada para educar com respeito sua criança e buscar autoconhecimento para viver uma vida mais leve!

Afinal, o que é disciplina positiva?

A disciplina positiva é uma abordagem tanto filosófica quanto prática, um modelo educativo composto por firmeza, afeto e empatia, que você, adulto, pode utilizar com a sua criança. Trata-se de uma escolha na forma de conduzir a criação, colocar os limites necessários e estabelecer diálogos e cooperação com a criança.

A partir da disciplina positiva, passamos a:

  • Entender a importância de conhecer as necessidades por trás dos comportamentos da criança;
  • Desenvolver o autocontrole e o autoconhecimento;
  • Repensar os padrões comportamentais;
  • Ensinar às crianças habilidades de vida sociais e intrapessoais como empatia e segurança em si mesma, e
  • Atender às crianças de forma consistente e amorosa.

Mãe de sete filhos, psicóloga e educadora, a Dra. Jane Nelsen desenvolveu o conceito de Disciplina Positiva a partir das teorias dos psiquiatras Alfred Adler e Rudolf Dreikurs. Há mais de 30 anos, lançou o livro “Positive Discipline”, no qual defende que as crianças têm o direito à dignidade e ao respeito, assim como qualquer outra pessoa. E esse é mesmo o primeiro passo para ingressar na disciplina positiva.

O que NÃO é disciplina positiva?

Vamos desmistificar esse conceito? Falar um pouquinho sobre os mitos que ainda o cercam? Veja bem, educar com respeito não é:

  • Autoritarismo;
  • Permissividade;
  • Educação sem regras;
  • Mimar — eu falei um pouco sobre isso no meu texto “Corro o risco de mimar a criança?” lá eu falo sobre diferença entre educar com amor e mimar, depois dá uma conferida lá;

A disciplina positiva é uma maneira equilibrada de educar por meio de técnicas como prevenção, distração, e substituição, para conduzir as crianças com gentileza e firmeza ao mesmo tempo.

Como começar a aplicar a disciplina positiva com a minha criança?

Ao considerar a maneira como lidamos com os desafios da educação de uma criança, devemos pensar se essa maneira responde a esses cinco pilares:

  1. É respeitosa? Desejamos tanto que as crianças nos respeitem e respeitem os outros, mas, se não somos respeitosos com ela, como ela vai aprender isso?;​
  2. Essa maneira contribui para que a criança se apodere de um senso de aceitação e importância? Todo ser humano busca se sentir aceito, amado e importante — especialmente as crianças que, muitas vezes, apresentam mau comportamento por não se sentirem assim;
  3. Essa maneira é efetiva a longo prazo, ela traz efeitos positivos para o futuro?;
  4. Ajuda a criança a desenvolver habilidades sociais e de vida valiosas para que ela possa desenvolver um bom caráter? Ex.: empatia, segurança, responsabilidade;
  5. Ajuda a criança a descobrir o quanto ela é capaz e a usar o seu poder pessoal de maneira útil?

Essas indagações são a base do caminho da disciplina positiva. Se você incorporá-los aos pouquinhos, perceberá como sua relação com a criança se tornará mais agradável e leve — você passa a pensar “até que ponto isso é importante” e a escolher as suas batalhas diárias.

Habilidades a serem desenvolvidas na criança (nem todos nós tivemos essa oportunidade)

Existem 7 habilidades de vida e sociais significativas e necessárias ao desenvolvimento de pessoas capazes, descritas por Jane Nelsen. São elas:

  1. Forte percepção das habilidades pessoais – “Eu sou capaz”;
  2. Forte percepção sobre sua importância nas relações primárias – “Eu contribuo de maneira significativa e sou genuinamente necessário”;
  3. Forte percepção de seu poder ou influência pessoal sobre a própria vida – “Eu posso influenciar as coisas que acontecem comigo”;
  4. Forte habilidade intrapessoal: habilidade de entender suas próprias emoções e de usar esse entendimento para desenvolver autodisciplina e autocontrole;
  5. Forte habilidade interpessoal: habilidade de trabalhar com os outros e desenvolver amizades por meio de comunicação, cooperação, negociação, troca, empatia e escuta ativa;
  6. Forte habilidade sistêmica: a capacidade de lidar com os limites e consequências da vida cotidiana com responsabilidade, adaptabilidade, flexibilidade e integridade;
  7. Forte habilidade de avaliação: habilidade de usar a sabedoria para avaliar as situações de acordo com valores apropriados.

Quando conhecemos essas habilidades, passamos a sentir no coração se nós tivemos a chance de desenvolvê-las e se vivemos com qualidade emocional. É preciso se fazer essa pergunta: nós vivemos com qualidade emocional? Depois de entender esse caminho começamos a perceber que muitas vezes nós adultos repetimos padrões de comportamento baseados no autoritarismo e na interrupção de comportamentos. Você já pensou sobre isso?

Por que a disciplina positiva promove o autoconhecimento e o autocontrole?

Você vai perceber que a disciplina positiva vai te fazer pensar na sua própria personalidade, em como foi sua infância e, como consequência, vai te ajudar a entender o que está por trás das suas reações sobre os comportamentos da sua criança.

Quando você conhece sua própria história e entende que por trás de um mau comportamento existe uma necessidade, você consegue olhar para você e para sua criança, para as reais necessidades de ambos. E depois de olhar para nós mesmos estamos muito mais propensos a agir com calma e consciência.

Como a criação reflete no nosso futuro

A maioria de nós foi criada a partir da lógica da imposição e obediência, e isso reflete na forma como confiamos em nós mesmos, nas outras pessoas e, claro, na maneira como educamos nossos filhos.

Grande parte das gerações anteriores eram preocupadas em criar seus filhos para agradar a família e a sociedade, de forma que fossem sempre obedientes às ordens, o que beirava quase à submissão. Não estamos aqui para julgar nossos pais, pois eles deram o seu melhor dentro das condições que tinham e do contexto em que estavam inseridos.

Apenas podemos observar que, quando não deixamos a criança falar, assumir o lugar da fala, muitas vezes é porque também fomos criados assim e não tivemos essa opção. Quando gritamos com nossa criança, pode ser que estejamos repetindo esse padrão da nossa infância. Quando somos duros e pedimos para “segurar o choro”, muitas vezes é porque pensamos “ah, eu passei por isso, sobrevivi e estou super bem e meu filho também deve fazer o mesmo”.

Quantas vezes lidamos com as crianças de forma reativa, já esperando um mau comportamento, uma birra ou desobediência que nos tire do sério? Educar com respeito nos ajuda a remodelar essa postura defensiva que adotamos com nossos filhos.

Eu tenho uma proposta: será que não seria melhor viver a qualidade emocional em todo o seu potencial ao invés de apenas sobreviver aos métodos coercitivos e punitivos?

Não se culpe: acolha você mesmo

É extremamente comum os pais encherem o coração de culpa quando começam a aprender sobre disciplina positiva. Questões como: “por que meus pais me educaram assim?”, “por que não descobri a disciplina positiva antes?” e “por que não estou conseguindo aplicar as técnicas com meu filho diariamente?” passam pela nossa cabeça.

A culpa e a disciplina positiva não precisam andar juntas a partir do momento em que você passa a se acolher, sabendo que está no seu processo de aprendizado, que tudo tem seu tempo e foi ou é exatamente como deveria ser.

Além disso, a disciplina positiva é um processo a longo prazo que, sim, pode trazer resultados imediatos, mas requer paciência e persistência para causar os efeitos mais profundos e necessários na formação das habilidades de vida e sociais da criança.

Qual a sua verdadeira intenção com a disciplina positiva?

Mais importante que conhecer as ferramentas para educar com respeito é entender a filosofia por trás desse conhecimento. A disciplina positiva não é um manual de como tornar a criança obediente, acatando todas as nossas ordens; ela visa respeitar a criança e conseguir a sua cooperação através da gentileza, da conexão e do vínculo. A criança é por natureza cooperativa, o que é bem diferente de ser cegamente obediente. E a ciência já provou que incentivar a cooperação da criança é muito mais efetivo que insistir em exigir obediência cega.

Para que a disciplina positiva realmente aconteça, é necessária uma mudança de postura, sabendo que a criança possui personalidade e vontades próprias e, por isso, alguns dias serão mais desafiadoras mesmo. Nem sempre as técnicas funcionarão. Nem sempre nossos filhos responderão como gostaríamos.

Não podemos contar com o imediatismo, e precisamos nos lembrar que esse é um processo extremamente novo para nós e para elas. Sabemos, por vários meios, que essa forma de lidar com as crianças traz efeitos extremamente positivos nas relações familiares e, especialmente, no futuro delas. Ainda não estamos acostumados ao novo jeito de nos relacionar com elas, e elas também precisarão de um tempo para se adaptarem a nossa nova postura.

A diferença entre obedecer e cooperar

Se na obediência o “porque” fazer é para agradar o outro, porque o outro me pediu, o outro só vai me amar se eu fizer, e se eu não fizer não vou ser amado ou vou receber uma punição, na cooperação vamos além.

Na cooperação, “eu faço porque entendo que isso realmente é importante para minha vida, para as pessoas ao meu redor, para minha família e para minha casa”. Na cooperação, conseguimos trabalhar autodisciplina e muita responsabilidade.

Então, quando você se perguntar se a disciplina positiva funciona, lembre-se que tudo tem seu tempo, e que precisamos respeitar esse tempo para encontrar o ponto de equilíbrio. Isso não quer dizer que, para isso, precisamos ceder a todo momento. Integrar os limites às concessões é mesmo desafiador e um trabalho diário.

Mais uma vez, se acolha sempre. Eu separei com muito carinho algumas dicas para todos nós, para quando não conseguirmos aplicar a disciplina positiva com nossos filhos.

Mas por que Educar com Respeito uma criança através da Disciplina Positiva?

Afinal de contas, qual é a grande vantagem de usar essa abordagem na educação dos filhos? Aplicar a Disciplina Positiva não é mudar o comportamento da criança, tornar a criança obediente e pronto, todos os problemas resolvidos.

Trata-se sobretudo de incentivar a cooperação, estreitar vínculo com a criança e trabalhar habilidades intrapessoais e sociais para a vida. Então quando me perguntam se a Disciplina Positiva prepara a criança para o mundo, eu gosto de levantar duas questões:

#1. Como a gente imagina nossas crianças daqui a 15, 20 ou 30 anos? Esse é o principal norte. Tenho certeza que nós queremos criar seres humanos confiantes, seguros, responsáveis, amorosos, independentes, etc. Então como podemos fazer para trabalhar todas essas habilidades do futuro, agora na criança. Você acha que a criança aprende sobre Confiança através do Castigo? Ou sobre Independência através da Punição?

#2. A gente quer criar seres humanos para se adaptarem às mazelas do mundo, ou queremos criar agentes transformadores do mundo, adultos capazes de mudar a lógica social de hoje? Essa é uma pergunta importante, porque se o que queremos é que nossas crianças sejam independentes e confiantes, provavelmente elas não vão se adaptar ao mundo sem questionar, sem tentar uma mudança de postura, sem colocar a própria verdade.

A grande vantagem de aplicar essas estratégias é a longo prazo. Claro que, a curto prazo também vemos mudanças quase imediatas na relação com os pequenos, mas diferente de outros métodos que atuam na tentativa de mudar o comportamento das crianças para que elas obedeçam e ponto final, a Disciplina Positiva pretende uma transformação mais profunda.

Siga seu coração sempre

Sabemos que mamães e papais sofrem grande pressão de si mesmos e da sociedade. Na dúvida sobre qual decisão tomar, eu falo: siga sua intuição, pois a resposta está em seu coração.

Você vai perceber que, à medida que aprender mais sobre a disciplina positiva, vai lidar com uma pressão das pessoas que te cercam e que ainda não estão acostumadas com essa nova forma de educar com amor. A pressão social faz parte. O importante é sentir que está no caminho certo.

Eu espero muito que este texto tenha ajudado você a ingressar no caminho da disciplina positiva, estreitando ainda mais a relação com a sua criança. Se você está à busca de ampliar sua consciência sobre como educar com respeito, eu escrevi um e-book com mais detalhes, dicas e algumas ferramentas para você aplicar no dia a dia com a criança . Vale a pena conhecer. Espero que goste, e conte comigo na sua nova jornada.

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9 respostas

  1. Oi Mariana, adorei seu artigo e mais ainda em conhece-la. Não conhecia esse conceito de Displina Positiva e confesso, me deixou muito curiosa em saber mais. Tenho um filho de 7 anos e quero muito aperfeiçoar meu conhecimento para assim conseguir aprimorar toda relação envolvida na educação.

  2. Mariana, achei fantastico o seu artigo. Tenho um filho de 4 anos e respondeu algumas questões sobre sua educação. A sua abordagem sobre disciplina possitiva é muita clara, leve e esclarecedora! Mto obg! Gostaria de aprender mais.. Vc ministra cursos online?

    1. Boa noite… amei o artigo… não conhecia nada sobre a disciplina . Tenho uma dia de 21 e um de 17. Será que ainda consigo aplicar alguma coisa?

    2. Ótima reflexão! Muito bom ler tudo, pois vem confrontar algumas coisas que faço com meu filho de 4 anos, e consegui refletir e perceber que existem métodos muito mais eficazes e corretos para educar! E o mais interessante é pensar no bem que isso vai fazer na vida dele a longo prazo! Obrigado!

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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