ESCOLHAS LIMITADAS: UMA FERRAMENTA PODEROSA DA DISCIPLINA POSITIVA

dois meninos brincando

Na Disciplina Positiva, existe uma ferramenta chamada “Escolha Limitada”, que é, basicamente, oferecer escolhas para a criança. Essa estratégia nos auxilia em diversas situações, porque a criança se sente empoderada, aceita, amada e importante ao receber voz de escolha.

Oferecer escolhas limitadas pode parecer muito difícil para quem quase nunca teve a oportunidade de escolher na vida ou mesmo quem sempre teve alguém para dizer o que era certo ou errado de se fazer. De fato, pode ser desafiador para as pessoas que tiveram uma infância sem livre-arbítrio oferecer escolhas para as suas crianças.

A criança pode escolher tudo?

É natural algumas dúvidas surgirem nesse caminho: “a criança não pode escolher determinadas coisas”, pensamos… Mas o segredo está em oferecermos escolhas apropriadas para a idade da criança e para a realidade vivenciada.

Às vezes é mais simples do que pode parecer, e não há problema em deixar a criança escolher: cor da escova de dente, cor da roupa, tipo de mochila, dentre outras coisinhas do dia a dia. Porém, se formos parar para pensar, até mesmo esses detalhes costumam partir de nós, adultos.

Como aplicar as escolhas limitadas com a criança?

A dica é parar um pouquinho e refletir sobre as escolhas mais apropriadas para determinada situação, e falar com a criança: “olha, eu confio em você e sei que é capaz de fazer uma boa escolha”.

E é preciso realmente confiar, porque às vezes queremos usar uma ferramenta só para praticar, mas nosso coração deve estar realmente aberto, aceitando a opção da criança. Precisamos pensar se permitimos que os nossos filhos escolham coisas que representem quem eles são.

As consequências no futuro

Temos a tendência de escolher tudo para eles, e isso dificulta o futuro deles como pessoas, porque não desenvolvem habilidades de resolução de problemas. Precisamos, frequentemente, tomar decisões diante de diversas situações e, se sempre temos alguém dizendo o que fazer e como fazer com todos os detalhes, chegando até a fazer por nós, como vamos conquistar autonomia e senso de autoconfiança?

Quando a criança escolhe e vê que permitimos isso, ela se sente autoconfiante, já que confiamos nela. É muito importante que ela saiba que confiamos na sua escolha. Percebo que a nossa grande dificuldade em usar essa ferramenta consiste na falta de confiança nas crianças, de que são capazes de fazer escolhas saudáveis e produtivas.

As escolhas e a construção da personalidade

Dentro dessa reflexão sobre as escolhas limitadas, precisamos nos perguntar se estamos permitindo que os nossos filhos construam uma vida espelhada e refletida em quem eles são.

Se estamos no comando e no controle de todas as coisas, é provável que a vida deles reflita muito mais quem nós somos. Estamos, dessa maneira, impedindo que desenvolvam quem realmente são. Muitas vezes, as crianças vão fazer escolhas diferentes das nossas, desde as mais simples às mais complexas.

É necessário oferecer liberdade para as crianças discordarem de nós e comunicarem seus desejos, mesmo que precisemos acolher esse discordar, uma vez que, naquele determinado momento, é impossível deixá-las escolher.

Acolher o discordar: o grande desafio!

Sinto que, às vezes, nos incomodamos com o desejo diferente do nosso, com o discordar. Mais uma vez, se eu não pude discordar na minha infância, talvez seja ainda mais difícil perceber o meu filho discordando de mim.

Podemos fazer o acolhimento desse discordar, acolher a frustração da criança sobre uma escolha arrependida, e dessa liberdade. Muitas vezes não enxergamos a possibilidade de flexibilização porque estamos muito rígidos e presos na questão de que “eu sou o pai e eu sou a mãe, e as coisas têm que ser controladas por mim”.

É como se sempre tivéssemos no lugar de ensinar, que nunca podemos aprender com a criança, que ela nunca pode mostrar que é possível ser algo diferente ou fazer algo diferente.

Fica, aí, essa reflexão sobre escolhas, sobre a liberdade de escolher, sobre a possibilidade de oferecer escolhas limitadas, sobre a liberdade de discordar e do desejo das crianças de fazer diferente, de escolher diferente de nós.

Com amor, Mari.

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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