Educar com respeito em público: o desafio do julgamento e soluções para a birra na frente dos outros

criança, menina de aproximadamente sete anos, sentada na cadeira, com os braços cruzados e com o rosto fechado, enquanto a sua mãe estã sentada ao seu lado, com a mão apoiada sobre o joelho da filha, olhando com ternura e acolhimento para a filha.

Um dos momentos mais difíceis para quem está tentando educar uma criança com respeito é se deparar com uma birra em público, com outras pessoas assistindo, principalmente. 

Se as outras pessoas não acreditam, entendem ou não conhecem a lógica da educação com respeito, isso mexe muito com a gente; ficamos inseguros, com medo e julgados. 

Aí bate a grande dúvida: “será que estou sendo permissivo?”. Olha, fique forte nesses momentos! As outras pessoas normalmente acham que o correto é punir a criança. Qualquer coisa que façamos sem ser bater, gritar, colocar de castigo e ameaçar, será entendida como permissividade.

O que fazer quando a criança tem comportamentos desafiadores em público?

Vamos construindo a segurança de lidar com isso ao longo do tempo! Quanto mais estudamos, mais seguros ficamos da nossa escolha.

Tente pensar assim: “eu decidi educar com respeito, essa é a minha opção de relacionamento com meu filho, eu não sou perfeito, nem sempre vou saber exatamente o que fazer, mas esta é uma decisão. Estou passando por um momento desafiador com a criança, mas é esse o caminho que quero.”

Posso até não ter certeza se aquilo que estou fazendo vai dar certo, nem mesmo de qual ferramenta usar naquele momento, mas, uma certeza eu tenho: quero lidar com essa situação com respeito. 

Esse pensamento será extremamente importante para todo o resto. 

Concentre-se mais no objetivo e menos nas ferramentas. Assim, tudo fluirá!

Às vezes, ficamos concentrados em qual ferramenta usar: “será que é hora de oferecer um abraço? Será que tiro a criança do ambiente? Será que falo com ela para se acalmar? Será que canto uma música?”.Ficamos perdidos no “o que eu faço?”. Mas, o primeiro passo é: “o que eu escolho para essa relação?”. Esse é o primeiro passo, e não escolher qual ferramenta usar. 

Assim, as coisas vão sendo conduzidas de um outro lugar, em que sou firme e não importa o que os outros pensam. Quando importa o que os outros pensam? Quando me sentirei julgado e pressionado? Quando não estou seguro da minha escolha. 

Se eu penso que educar com respeito, às vezes, é permissividade, o que o outro está pensando e a forma como está me olhando vão ter peso sobre mim. 

Como construímos essa bolha imaginária de proteção para a gente e para a criança? Estando seguros. Não importa o que o outro pensa, eu tenho certeza  que não é permissividade.

Educar com respeito em um ambiente público ou com pessoas conhecidas: como fazer?

Se você já sabe que vai titubear e que a situação vai te deixar constrangido ou inseguro, saia do ambiente, leve a criança, preservem-se, preservem o ambiente em que vão lidar com as soluções e com o comportamento dela. 

Mas se a criança não quiser sair, estiver fazendo birra, não estiver controlada nas suas emoções, como tirá-la dali? Sendo gentil e firme.

Pegue-a com gentileza e fale: “estou te tirando daqui para te preservar, nos preservar, e vamos resolver isso em outro lugar”. Seja breve, gentil e firme ao mesmo tempo. Vão a um lugar seguro — emocionalmente falando — e resolvam a situação.

Como me sentir seguro ao educar meu filho com respeito?

Quando estou seguro de ser firme, confio que posso ser firme sem punir e sem autoridade, e que consigo trazer para a criança uma consistência no que eu falo. Quando estou seguro de ser gentil, estou seguro de que posso ser educado com a criança, que posso respeitá-la sem precisar gritar, ameaçar ou colocar de castigo.

Se for um momento desafiador, como uma birra, por exemplo, o que fazer? Devemos, primeiro, olhar para a criança, tirá-la de cena ou estar com ela. O importante é focar nela.

Comece olhando nos olhos da criança; assim, você se desbanca, e toda aquela necessidade de usar o poder e o controle diminui. Por mais que estejamos chateados, os olhos deles mostram a essência deles. Voltamos a lembrar que a criança não é o comportamento desafiador. 

Diga para ela que você entende o que está acontecendo: “percebo que está nervoso, ansioso, frustrado, chateado” — a birra sempre vem de sentimentos que ela não sabe lidar ou não conhece.

E se eu estiver disposta a aplicar a Disciplina Positiva na frente das pessoas?

“Mas, Mari, estou disposta a resolver isso na frente de todos!” Ótimo. É uma grande oportunidade de comunicarmos às pessoas de que não é permissividade, mas um caminho para também aprenderem outras maneiras de lidar com as crianças. 

A maneira mais segura de aplicarmos a educação com respeito é estando seguros de sermos firmes e gentis.

O impacto do “não” no comportamento da criança 

Quando você diz “não”, as expectativas da criança são quebradas e, muitas vezes, além de tudo, ela está com sono, cansada ou com fome. Esses sentimentos virão através de um comportamento desafiador. 

Diga para a criança que entende o que ela está sentindo. Quem é o adulto? Quem é o responsável por ajudá-la? Somos nós!

Dizer “muitas vezes, eu me sinto assim também” é se humanizar e se colocar no lugar dela. Use a sua empatia e, depois, busque soluções para colocar esses sentimentos para fora de uma maneira respeitosa.

A importância de demonstrar seus sentimentos

É importante abrirmos espaço para a criança colocar suas emoções com respeito mútuo, seja onde for.

“Mas, Mari, tem hora que não tem jeito de fazer isso porque a criança fica tão nervosa, grita tanto, chora tanto, que não consigo me comunicar.” Então, espera. Nessas horas, se o diálogo está desafiador, tudo que podemos é oferecer nossa presença: “estou aqui com você; o que posso fazer para se sentir melhor? Vou ficar aqui do seu lado”. E fica. Sustenta aquela posição. 

Sustentamos o desconforto na nossa relação com as outras pessoas que estão assistindo à situação e que, muitas vezes, não acreditam no mesmo que nós. Também precisamos sustentar o desconforto da criança. 

Olhando pelo lado positivo do desafio de educar com respeito

Pense que se trata de uma grande oportunidade de lidarmos com nossas emoções, desconfortos e preocupações sobre julgamentos, além da nossa necessidade de agradar o outro. 

Por que é tão difícil? Porque priorizo agradar o outro, mesmo que implique em não me conectar com meu filho

Esses momentos são grandes oportunidades para refletirmos. Espero que tenha gostado.

Um beijo, e até a próxima.

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Uma resposta

  1. Adorei Mari, precisava dessas orientações. No caso da minha filha de 2 anos quando está nervosa quer bater, me vem a vontade de também bater nela, mas me controlo. Vou conversar com ela, parece que não me escuta. O que falo não pode ela teima e faz, mas quando falo para fazer algo, como colocar a roupinha suja dela no cesto de roupa suja, ela coloca, limpar uma água que ela jogou no chão, ela limpa, ajudar a mamãe ela ajuda com prazer, já o não pode ela me desafia. É educada conversa com as pessoas, super carinhosa, mas meu maior desafio é quando está nervosa, se joga no chão, bate, falo não bate faz carinho, ela faz, pede desculpa, mas quando fica nervosa volta com as mesmas atitudes.

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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