COMO LIDAR COM A AUTONOMIA E A INDEPENDÊNCIA DA SUA CRIANÇA

menina de 7 anos com vestido colorido

Quero compartilhar um pouquinho com você sobre algo que percebo que nos assusta e nos deixa sem saber como agir: a autonomia e a independência da criança. Algumas crianças começam a demonstrar esses aspectos de autonomia e de independência muito cedo, mesmo antes de uma fase mais comum de acontecer, aos dois anos.

Algumas crianças já vêm demonstrando que são capazes de colocar sua opinião, falar o que querem e o que não querem, dar sugestão, falar não para algumas coisas, fazer atividades sozinhas, dentre outras coisas. Tudo isso mexe com a gente e nos deixa perdidos.

Por que a autonomia da criança assusta os adultos?

Primeiro, porque não sabemos que é algo natural a criança se desenvolver ao longo do tempo. Desenvolver é deixar de se envolver, ir se soltando da relação de simbiose com os pais para conhecer sua própria individualidade, essa força interna de quem ela é, bem como do que pensa, acredita, sente, gosta e não gosta.

Portanto, como não sabemos que é algo natural, nos assustamos. Chegamos até a pensar que é um problema da nossa criança — que ela é rebelde, só fala não, não escuta, é difícil. Se pararmos para observar, veremos que a maioria das crianças são assim e apresentam essa postura.

É comum ver pessoas falando: “ah, meu filho tem personalidade forte porque ele já mostra o que quer e o que não quer, fala não, não aceita as coisas”. Sempre gosto de trazer uma reflexão sobre essa expressão “personalidade forte”.

Meu filho é difícil e tem personalidade forte. Será?

O que seria, então, uma criança sem personalidade forte? Contrário de personalidade forte seria ter uma “personalidade fraca”, e se a gente for pensar por esse lado, será que é isso que a gente deseja para os nossos filhos? Será que a gente deseja que eles tenham uma personalidade fraca?

Eu, na verdade, não acredito que a gente precise denominar as coisas assim, “personalidade fraca” e “personalidade forte”. Estou trazendo isso só a título de reflexão mesmo! Eu acho que o mais importante é estabelecer durante a nossa vida uma personalidade individual, muitas vezes diferente da personalidade de nossos pais.

De qualquer maneira, acredito que é muito bom a criança ser diferente, forte, impor o que pensa, dizer não. Quantos de nós hoje, na vida adulta, estamos lutando em processos terapêuticos com o apoio de profissionais, para conseguir dizer não para as pessoas? Quantos de nós nos sentimos na obrigação de agradar os outros? Muitos ainda lutam para conseguir impor desejos e colocar uma opinião com firmeza.

Será mesmo que as crianças precisam ser obedientes?

A independência e a autonomia que não tivemos na nossa infância

Também nos assustamos com a autonomia das crianças porque chegamos a pensar: “peraí, quando eu tinha essa idade, não conseguia colocar a minha opinião, e essa criança já consegue, será que não tem nada de errado?”.

E a gente volta para a questão de ter alguma coisa errada com a criança, mas isso diz respeito ao fato de não termos acessado esse lugar da nossa individualidade, das nossas percepções e opiniões.

Muito possivelmente, não tivemos esse espaço na nossa relação com os nossos pais, ou, se tivemos, possivelmente vinha unificado de punições, castigos e formas mais autoritárias. Dessa maneira, não tivemos esse espaço.

Como lidar com a autonomia da criança?

É preciso entrar em contato com essas duas questões; primeiro, com essa naturalidade de um processo de desenvolvimento, entendendo que ela é um indivíduo, não é igual a você, ao pai, mas é um outro ser e tem direito a suas opiniões e percepções.

Claro que, muitas vezes, essa criança não vai ter ainda dimensão do todo, daquilo do que é possível ou não, do que é bom ou ruim, e nós, pais, precisamos ir direcionando em um caminho de respeito à individualidade dela.

Eu posso direcionar, orientar, posso e devo, porém, preciso fazer isso respeitando essa individualidade, esse indivíduo que é a criança. E a outra coisa é cuidar do nosso sentimento de frustração, do nosso sentimento interno, da nossa criança interna, que se revolta com tudo isso, uma vez que não pôde vivenciar isso.

Então, terei que olhar para a minha criança interior ferida e magoada — muitas vezes, com seus pais que não me deram esse espaço — para acolher o meu filho nessa personalidade, forte, sim, que bom!

Que bom que essa criança desde já está desenvolvendo a capacidade de se colocar, impor limites nas outras pessoas e em si mesma. Tudo isso é importante para a gente! Não precisamos desenvolver isso somente na vida adulta, pode ser desde a infância. Espero que este texto tenha trazido reflexões para você!

Me conta aqui o que você achou! Com amor, Mari.

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4 respostas

  1. Seus textos sempre me fazem refletir. Concordo que, na nossa infância, não tínhamos espaço para opinar, expor e falar.
    Respeito o espaço da minha filha, questionando o que ela gosta/pensa a respeito dos assuntos cotidianos, pois hj vivemos outro momento onde as crianças têm mais abertura e conhecimento se comparado a nossa infância.
    Porém vejo que muitos pais estão confundindo birra com a tal personalidade forte ou permitindo que a criança façam coisas impossíveis para sua idade pq “meu filho é independente demais”, vendo resultados desastrosos.

  2. Nossa muito bom esse texto me deixou mais tranquila, porque já estava me perguntando aonde que estou errando com a minha filha de 6 anos.

  3. Gostei muito do texto.
    Realmente nos faz refletir quanto a nossa ação para com as crianças. Embora ainda não seja mãe, vivo diariamente com os pequenos por ser pedagoga, e muitas vezes me deparo com desafios com os alunos e também para com os adultos, que ainda se prendem a essa disciplina punitiva. Por essa disputa de poder.

    Seus textos e conteúdos me são inspiradores. Obrigada

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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