COMO ACABAR COM A BIRRA?

menina de 7 anos com cara de brava

Em primeiro lugar, eu queria te dizer o que é a birra. Você sabe o que é a birra? A birra é um processo natural da infância, que acontece quase sempre quando a criança deseja ou sente algo e não consegue se expressar de forma verbal ou racional. Geralmente surge quando a criança está frustrada com alguma coisa, por exemplo: “chegou a hora de ir embora, vamos dar tchau pro coleguinha e entrar no carro?”.

Pronto, aí o estopim. E aí a birra vem com tudo! Pode ser choro, grito, desespero, agressividade, deitar no chão, dependurar-de… a birra se manifesta de muitas maneiras. E, mesmo que você fale com gentileza, ela pode acontecer. A criança se manifesta e se comunica com todo seu corpo e coração: ela se agiganta, e não tem como não notá-la na birra!

A birra faz parte da infância (e da fase adulta também)

Deixa eu te contar um segredo: a criança age com seu cérebro primitivo na hora da birra, e todos nós fazemos isso em algum momento de nossas vidas, como, por exemplo, quando somos frustrados. Mas o que acontece é que o adulto já é maduro o suficiente para saber que está frustrado, com raiva, cansado etc.

O adulto sabe nomear seus sentimentos e, numa situação de estresse e contrariedade, consegue ponderar, raciocinar, sair do automático, deixar o cérebro primitivo para trás e agir com maturidade — e nem sempre conseguimos não é mesmo?.

A criança ainda não consegue fazer isso, pois age de maneira “corporal”. Ela acabou de chegar nesse mundo e não entende o que é frustração. Se nós não a nomeamos e a apresentamos, a criança não entende o que é a raiva, por exemplo.

Acabar com a birra a qualquer custo pode ser prejudicial

Se chamamos tudo de birra, pirraça, “manha” ou má criação, é muito possível que essa criança tenha dificuldades de lidar com a própria raiva quando for crescendo e não saber direito como expressá-la, chegando, até mesmo, a reprimi-la. Se tudo é birra, e se a birra é algo ruim, algo que deve ser sanado, a criança automaticamente aprende que não pode sentir raiva, frustração e desejos.

Pare e pense: você acredita que as crianças não devem desejar as coisas? Ou que não devem sentir raiva ou frustração? Tudo isso se manifesta na birra, e nós insistimos em acabar com ela, acreditar que não tem lugar na infância e que não existe nada por trás desse comportamento.

Para nós, adultos maduros, é muito difícil lidar com a birra (e eu me incluo nessa frase). Quem dera existisse um passo a passo, uma receita pronta, um manual de sobrevivência para acabar de vez com a birra da criança sem prejudicá-la em seu processo de maturação cerebral. Seria o sonho de toda mãe e todo pai, não é mesmo?

O aprendizado que pode ser retirado da birra para a criança e para os adultos

Só que não existe esse manual, e as crianças vão continuar sendo crianças, passando pelo processo de birra uma hora ou outra. É assim que elas aprendem. É natural! Se nós acabamos com a birra da criança, tiramos dela algo natural e muito importante para ela — também tiramos de nós mesmos as grandes oportunidades de ensiná-las a lidarem com seus sentimentos.

Se eu corto a birra com um grito “nós vamos pra casa agora pronto e acabou, eu sou sua mãe e você precisa me obedecer”, a criança não vai ter a oportunidade de trabalhar, aos poucos, o que está se passando dentro da sua cabecinha, e nós vamos perder a oportunidade de ensinar o que é a frustração, de nos conectarmos com ela pela empatia e de mostrarmos que somos tão humanos como ela.

Se eliminamos a birra, os desafios, o “mau comportamento”, perdemos nossos filhos. Se a nossa postura é a de determinar o que eles precisam fazer e sentir, criamos uma distância enorme entre nós. De qualquer forma, não existe a mínima possibilidade de eliminar esses desafios por completo: essa é uma promessa que vai contra a natureza da infância.

Como lidar com a birra, afinal?

O que eu acredito é algo diferente! O que as abordagens respeitosas com a criança propõem, ao invés de eliminar os desafios, é uma mudança de olhar e de atitude. Que possamos sair do lugar autoritário e exercer nossa autoridade natural com leveza, sabendo que os desafios fazem parte da maternidade e da paternidade e são eles que moldam o caráter, a saúde emocional, o repertório intelectual desse futuro adulto que estamos educando.

A proposta de educação sem punição e sem permissividade cria conexão verdadeira entre você e sua criança, porque vocês se tratam como dois seres humanos equivalentes, que merecem ser respeitados e ouvidos e que estão em momentos de maturidade emocional bem distintos.

Como recompensa, os desafios se tornam mais leves, porque a criança vai percebendo que tem voz, que vai ser ouvida, que seus pais a estão ajudando a amadurecer — e, acredite, funciona! A criança sente-se segura o suficiente e conectada com você e, assim, o ambiente fica mais leve. Mas, não nos enganemos, os desafios vão continuar e nós já sabemos disso.

Faz sentido para você? Com amor, Mari.

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2 respostas

  1. Tenho uma filha de dois anos e está muito difícil lidar com as birras, às vezes deixamos de sentar em algum
    Lugar por conta da nossa filha, nós ficamos envergonhados!

  2. Oi Mari, Sou Mãe de gêmeos estão com 03 aninhos . Eles estão nesta fase das birras … tenho aplicado a DP durante os ataques de fúria e tem dado muito certo. Porém, outro dia um deles chorava pq não queria ir tomar banho, ele desceu do terraço com o avô muito sujo , eu logo pensei que poderia sujar toda a roupa de cama do quarto.
    Então, coloquei dentro do banheiro conversando numa boa, explicando pq deveria tomar o banho, Ele ficou furioso e começou a chorar de raiva , gritava e sapatiava.
    No meio da confusão eu havia tirado a fralda e ele fez xixi no chão o que piorou a situação pois, começou a escorregar na bagunça. Resumindo: perdi a paciência e enviei ele de baixo do chuveiro aos pratos ” eu sentia que ele gritava com muita raiva de mim.” Pensei em parar mas, ele já estava todo molhado. Foi horrível, senti péssima e deu vontade de chorar. Embrulhei ele na toalha e fui tentando acalma lo . Só depois de vestido foi que consegui destrai-lo com algo. Dei um tempo para nós dois … fui tomar meu banho e logo voltei e pedi desculpas a Ele …
    Eu deveria ter deixado brincar mais um pouco enquanto dava banho no irmão… me senti péssima. Mas na hora estava tão cansada , queria era dar banho logo e ficar livre de mais uma tarefa .

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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