mão de criança segurando um ursinho de pelúcia vermelho

O mal das recompensas e a disciplina positiva

Hoje eu quero falar um pouquinho sobre as recompensas. Na disciplina positiva, nós não valorizamos as recompensas, sabe por quê? Porque, por meio delas, a criança aprende que, para oferecer alguma coisa, é preciso receber: “então, só vou fazer se eu ganhar uma bala, um dinheiro, um presente, uma saída, um sanduíche…”.

Dessa maneira, tentamos conquistar o comportamento da criança usando trocas. E isso é muito perigoso, porque eu tenho certeza de que, se algum dia, você já usou a estratégia da recompensa, não era sua intenção estimulá-la a acreditar nisso. Mas, de fato, as recompensas, na prática, funcionam, certo?

Por que estamos acostumados com as recompensas na educação dos nossos filhos?

Qual criança não quer ganhar alguma coisa? Quem de nós não quer? Até nós, adultos, queremos. Se existe a possibilidade de troca, o nosso instinto nos leva àquela direção. Mas a grande questão do motivo de não incentivarmos a recompensa na disciplina positiva é esse ensinamento que ela passa, às vezes tão sutil.

Como o ato da recompensa não envolve xingar, gritar e bater, a sensação é que está tudo certo; estamos falando sobre isso aqui, é claro, sem julgamento, sem o caráter de julgar quem já fez ou quem já usou isso como um recurso, porque, como eu falei, percebemos a recompensa como algo naturalmente positivo, uma vez que ela atrai a criança.

As armadilhas da recompensa e os quadros de incentivo

Outro ponto de atenção é que a recompensa não convida a criança a cooperar. Muitas vezes usamos a recompensa para estimular a criança a ter um bom comportamento. E eu incluo, nas recompensas, os quadros de incentivo, sabe?

Esses quadros de incentivo com reações tornam ainda mais difícil perceber os malefícios para a criança, porque quando a criança faz alguma coisa ou quando ela acerta algo que desejamos, o que acontece? Damos uma estrelinha ou marcamos uma carinha de feliz. Qual aprendizado pode estar por trás disso? De que eu preciso agradar o meu pai, a minha mãe, e conquistar a felicidade deles. “Eles vão marcar uma carinha feliz; olha só, agora eles estão felizes comigo!”.

Depositar essa condição da nossa felicidade ou tristeza — “então, estou feliz ou triste com você” — na criança é algo muito intenso, porque tudo que ela quer é sentir aceitação, amor, que é importante, está agradando — e, automaticamente, ter certeza de que é amada. Se ela sente que não está agradando, entende aquilo como não-amor, então, por isso, precisamos ter muito cuidado com o uso dessas palavras.

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Uma mudança simples no modo de falar com sua criança faz toda diferença

O melhor é se a gente puder dizer do nosso sentimento para com o comportamento, como por exemplo: “estou feliz (ou triste) com o seu comportamento, com a sua atitude”, e não “estou feliz (ou triste) com você”. Percebe a diferença? A primeira frase confunde muito a cabecinha delas, fazendo com que entendam que não são amados — e não queremos isso, certo?

Então, nas recompensas dos quadros de incentivo, com carinhas ou adesivo como ganhos, a criança confunde a nossa satisfação com amor, tornando a compreensão mais complicada ao longo do tempo. Lembrando que falo isso sem julgamentos; caso já precisou usar esse recurso ou se você ainda o utiliza, minha intenção é esclarecê-lo, porque percebo o quanto é sutil e, muitas vezes, nem paramos para pensar no que pode estar por trás.

A dica da recompensa é tão disseminada e comum! Frequentemente vejo insights em Instagram e Facebook de várias pessoas que falam sobre educação infantil dando essas sugestões. Então, a tendência é entender que está tudo certo, mas estou aqui, hoje, para fazer refletir e pensar sobre outras estratégias e qual, de verdade, é o ensinamento desejado para essa criança.

Na disciplina positiva, as nossas metas são a longo prazo, pois não se trata simplesmente de passar ensinamentos — não necessariamente queremos eliminar o mau comportamento —, buscamos aprender a lidar com ele.

Existem inúmeras técnicas e métodos que ensinam a cortar o mau comportamento, então, se você faz isso, seu filho nunca mais vai fazer birra, gritar, bater? Não mesmo. As crianças têm comportamentos com necessidades por trás, nos dando sinais, tentando mostrar algo, por isso, o ponto não é simplesmente eliminar o mau comportamento, é entendê-lo, usar estratégias para ensinar algo a partir do erro.

O que você achou sobre isso?

Com amor, Mari.

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

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