Cantinho do pensamento: funciona ou não? Quais as consequências?

Menino de aproximadamente quatro anos de idade, cabelos na altura do ombro, iluminado nas pontas. O menino está em pé na quina de um cômodo da casa, paredes brancas, com as mãos postas na cintura, e a cabeça encostada contra a parede. Não conseguimos ver o seu rosto. A expressão corporal indica que ele está de castigo.

O cantinho do pensamento ainda é uma estratégia bastante difundida e praticada. Porém, se formos parar para pensar, é uma estratégia que não ensina habilidades de vida e nem é respeitosa. 

Aparentemente, o cantinho do pensamento é algo positivo, uma vez que não envolve violência e proporciona “uma pausa para a criança pensar”. Mas não é bem assim, e vou te explicar o porquê.

A intenção do cantinho do pensamento é boa

Normalmente, as pessoas colocam a criança para pensar depois de um comportamento desafiador, com a intenção de que ela melhore. Só que não percebemos algumas questões mais sérias. 

Primeiro: quando falamos “cantinho do pensamento” ou “pausa para pensar”, atribuímos, ao ato de “pensar”, uma relação negativa, de castigo e punição. Parece que quando eu fizer algo errado, vou ser punido e ficar isolado. 

Dessa maneira, criamos na criança uma relação negativa com o “pensar”. Afinal de contas, pensar é algo bom e positivo, totalmente natural — e importante — do ser humano.

Então, começando pelo nome, “o cantinho do pensamento” é uma estratégia que traz uma carga negativa em termos de ensinamento. 

Como pensamos que a criança vai reagir e como ela realmente reage

Se uma criança bateu no irmão e a colocamos no cantinho do pensamento, por exemplo, achamos que ela vai reagir da seguinte maneira: “não deveria ter batido no meu irmão, eu deveria ter me acalmado…”. 

Achamos que a criança vai elaborar ideias positivas e de mudança, mas não, ela ainda não possui maturidade para isso. Muito provavelmente, ela vai planejar como sair daquele lugar. Se você já observou alguma criança nesse estado de “cantinho do pensamento”,  já deve ter visto ela tentando “fugir”.

Além disso, a criança pode estar pensando que não é boa o suficiente ou pode sentir raiva e se sentir injustiçada. 

Para fazer diferente, é preciso sofrer?

Jane Nelsen, criadora da Disciplina Positiva, fala: “de onde tiramos a ideia absurda de que, para fazer a criança agir melhor, é preciso fazê-la se sentir pior?”. Eu quero que a criança faça diferente, então, vou deixá-la pensando, isolada? Vou humilhar? Isso é muito contraditório, porque, quando nos sentimos mal, temos vergonha e desmotivação para mudar o nosso comportamento. 

Nós, como pais e educadores, poderíamos estar gastando energia para ensinar a criança o que fazer.  Às vezes batemos tanto nessa tecla do “que não fazer” do que “não pode”, “esse comportamento foi ruim”, “esse comportamento foi errado”, que não mostramos caminhos positivos e de resolução. 

Pensamentos positivos para ações positivas

Podemos ensinar a criança falando frases afirmativas, apontando opções e escolhas dentro do que é possível e aceitável. Mais do que colocar para pensar, podemos ensinar.

O objetivo do “cantinho do pensamento”, de fazer a criança pensar e se acalmar, na maioria das vezes, não é alcançado. Como se trata de uma consequência punitiva, é mais provável que ela fique mais agitada. 

Se optamos por isso para ganhar tempo de pensar o que fazer com a criança, perdemos energia e oportunidade de ensiná-la a lidar com as emoções, com os momentos de raiva, os momentos confusos do cérebro primitivo — e, consequentemente, a pensar em soluções.

Se usássemos a nossa energia para focar em soluções e não para focar em consequências, ensinaríamos habilidades de vida, colaborando com as crianças para o aprendizado de resolução de problemas.

Ela não desenvolve resolução de problema porque não é levada a pensar em uma solução. Ela tem que lidar com aquilo sozinha, quando, na verdade, deveria ter que lidar junto com as pessoas que são responsáveis por ela, as pessoas que são inspirações para ela. 

Fica, então, essa reflexão sobre o “cantinho do pensamento”. Se a gente pratica ou já praticou essa estratégia, que possamos olhar para isso com mais clareza e buscar novas estratégias. Um beijo carinhoso.

Gostou? Comente e compartilhe!

Uma resposta

  1. Olá Mariana. Entendo a lógica, as associações e a ideia de levar a criança a adotar as novas estratégias. Mas preciso de exemplos para tentar visualizar isso na prática.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Picture of Mariana Lacerda

Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

E-BOOK

Limites, Conexão e Respeito

É possível Educar sem Punir?

Posts Recentes