menina soprando um dente de leão no campo verde

A fase do apego e a necessidade da autonomia da criança

Sabe o receio e a insegurança que batem quando percebemos que as crianças estão bem grudadinhas na gente? Por vezes, costumamos falar: “ah, ele está muito apegado, só quer dormir comigo” ou “ela só quer ficar comigo, só quer colo, não aceita ir com mais ninguém”.

Como isso nos preocupa e nos gera insegurança, começamos a nos perguntar — principalmente a mãe — se estamos fazendo algo de errado para a criança estar assim.

Claro que os pais também passam por essa situação, mas percebo esse sentimento mais forte em nós, mães, e por que será?

Insegurança e culpa na educação dos filhos: por que as mamães se cobram tanto

Eu quero propor uma reflexão sobre o porquê sentimos insegurança e culpa a ponto de pensarmos que estamos falhando em algo. A meu ver, um dos fatores é porque, de alguma maneira, a sociedade exige que a mãe se desconecte, se desligue da criança muito cedo, tanto devido à sua volta para o trabalho quanto à ida da criança para a escola.

Então, passamos a ver essa conexão, proximidade, necessidade de afeto, de carinho e  atenção demonstrados pela a criança como algo errado, que fará mal para ela. Aí a impressão é que realmente a mãe esteja errando. Mas será uma verdade?

O apego da criança nos pais é normal?

Por que devemos considerar o apego, o vínculo da criança com a gente, como algo ruim? Eu costumo até lembrar que “apego” em inglês é “attachment”, e se formos traduzir de novo para o português, encontramos a palavra “vínculo”, então, talvez, no português, estejamos trazendo uma conotação negativa para a palavra, enquanto em outras línguas ocorre o contrário.

Quando a criança sabe que pode contar com seu adulto, irá buscar aquele ninho. Quando ela não está bem, está triste, chateada, se sentindo sozinha, insegura, passando por um momento desafiador, vai procurar aquelas pessoas com quem se sentem realmente acolhidas, pois sentem que podem colocar esses sentimentos para fora — e os pais costumam ser essas pessoas, o que é ótimo, porque precisamos mesmo.

Quantos seres humanos no mundo gostariam ter a certeza de que podem contar com seus pais? Os animais são assim: quando estão precisando de proteção, afeto e carinho, procuram os seus pais e sua família de origem.

Então, o ser humano também pode fazer isso. Por que, afinal, vemos isso como um

problema ou um incômodo, como se fosse durar toda uma vida? Às vezes, a criança está apegada apenas em um determinado momento, e não quer dizer que irá ficar nesse “grude” para sempre.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

As fases que acontecem até o momento da autonomia da criança chegar

Passamos por uma série de fases ao longo da nossa vida. Essa fase inicial é de uma necessidade integral de atenção, amor e afeto. Laura Gutman fala que os 14 primeiros anos de vida são um momento de receber amor; de 14 a 20 ano,s é um momento em que se começa a experimentar a praticar esse amor com as outras pessoas e, de 21 para depois, de colocar em prática aquilo que recebeu.

Então, de 0 a 14 anos, que compreende a fase da infância e uma boa parte da adolescência, é o momento mesmo de receber amor, afeto e carinho. Então a gente pode olhar para essa necessidade da criança como natural, ao invés de compreender isso como uma necessidade errada ou advinda de um erro dos pais na educação dos seus filhos.

Sabendo que à medida que damos segurança e amor elas são capazes de seguir o caminho para o mundo sabendo que podem voltar, porque elas têm para onde voltar e com quem contar, tudo entra em harmonia.

Portanto, para chegarmos à fase da independência, precisamos passar pela dependência, e que seja assim, que seja leve a forma de compreender esse período passageiro das nossas crianças. Fica, então, essa reflexão. Me conta aqui o que você achou?

Com amor, Mari.

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

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