menina de aproximadamente cinco anos segurando uma carinha de cartolina com um smile sorrindo desenhado, e apoiado contra o seu rosto. E na mão direita está segurando um smile de cartolina com um rosto de desapontado desenhado. A foto foi tirada em um fundo vermelho, e a menina está vestida com uma camisa branca com estrelas azuis.

Rótulos positivos e negativos: como criar as crianças com a liberdade de ser quem são

Provavelmente, você já deve ter ouvido falar sobre rótulos negativos. Mas, e sobre rótulos positivos — na verdade, tidos como “positivos”? Normalmente, falamos muito sobre os rótulos negativos, de como eles trazem para a criança uma limitação de quem são. Por exemplo, se a criança é agitada, parece que ela é só aquilo, a “agitação”, quando, na verdade, é muito mais do que isso. 

Mas você sabia que os rótulos positivos também podem ser perigosos? Lembro-me de um workshop presencial do qual participei, de Disciplina Positiva, onde uma pessoa compartilhou que sempre teve o rótulo de “boazinha”, “calma” e  “tranquila”. Esse rótulo sempre foi muito difícil, pois todas as vezes em que precisou sair desse lugar, não conseguiu, pois se sentiu cobrada em estar nesse papel. 

Percebe como é importante nos atentarmos a isso? Tendenciamos a tomar cuidado para não rotular a criança em relação a algo negativo, mas nos esquecemos dos rótulos positivos. 

Elogiar (e corrigir) é diferente de rotular: como não rotular

Qual é a grande questão? Quer dizer que nunca podemos falar de características das crianças? Não, de forma alguma. O ponto-chave é que, quando as delimitamos, seja em algo negativo ou positivo, fazemos com que elas se enxerguem sob aquela ótica e perspectiva. Dessa forma, elas não entendem que, em determinado momento, apenas se sentem assim, mas não SÃO assim.

A criança pode ter momentos de tranquilidade e calmaria, mas não tem a obrigação de ser uma pessoa calma o tempo inteiro. Quando ensinamos para as crianças que elas podem ser várias coisas ao mesmo tempo, os rótulos não vão ser um grande problema. 

O perigo e as consequências dos rótulos

Com os rótulos, a criança constrói uma máscara sobre si mesma e, em algum momento da sua vida, vai perceber que é muito mais do que pensa, mas precisará de muito esforço para se desprender disso. 

Talvez você se pergunte “mas, Mari, mesmo quando é um rótulo negativo a pessoa usa isso como uma máscara?”. Sim, pois é vista por meio daquele rótulo, é reconhecida e aceita dessa maneira. 

Então, a tendência é continuar naquele papel porque está sendo pertencente a algum núcleo e aceita por outras pessoas, pela família, no ambiente escolar ou no ambiente de trabalho.

Se isso acontece com o rótulo negativo, imagina com o positivo! Mais força a pessoa vai fazer para assumir aquela máscara, para ficar nesse lugar, porque assim ela se sente amada, aceita e importante.

O rótulo positivo é mascarado, mas tão grave quanto

O rótulo positivo vai passar mais batido que o rótulo negativo, e precisamos estar conscientes em ambos os casos, em relação a essas máscaras e personagens que influenciam a criança a somente agradar o outro. 

Quando percebermos que a criança está presa em um rótulo, podemos ajudá-la nesse processo de desprendimento fazendo-a pensar: “se eu não tivesse que agradar ninguém, quem eu seria?”. Essa é uma pergunta para pensarmos sobre nós mesmos, também em relação às crianças, e darmos a elas a liberdade de ser quem são.

Claro que existem acordos, questões sociais, convenções sociais importantes, mas dentro de alguns limites, onde a gente não se machuque e não machuque o outro. Todos os dias à noite, quando vou amamentar o Matias para dormir, gosto de abençoá-lo e falar: “que você saiba que você sempre pode ser quem é”. 

Para mim, é importante que ele durma com essa mensagem. Eu quero que ele tenha a certeza de que pode ser quem é. Precisamos sentir no coração como podemos passar essa mensagem para as nossas crianças, dando espaço para se sentirem amadas, aceitas e importantes para além dos comportamentos e das questões desafiadoras delas. 

A melhor coisa é saber que somos amados como somos. <3 

Um beijo. 

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

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