Provavelmente, você já deve ter ouvido falar sobre rótulos negativos. Mas, e sobre rótulos positivos — na verdade, tidos como “positivos”? Normalmente, falamos muito sobre os rótulos negativos, de como eles trazem para a criança uma limitação de quem são. Por exemplo, se a criança é agitada, parece que ela é só aquilo, a “agitação”, quando, na verdade, é muito mais do que isso.
Mas você sabia que os rótulos positivos também podem ser perigosos? Lembro-me de um workshop presencial do qual participei, de Disciplina Positiva, onde uma pessoa compartilhou que sempre teve o rótulo de “boazinha”, “calma” e “tranquila”. Esse rótulo sempre foi muito difícil, pois todas as vezes em que precisou sair desse lugar, não conseguiu, pois se sentiu cobrada em estar nesse papel.
Percebe como é importante nos atentarmos a isso? Tendenciamos a tomar cuidado para não rotular a criança em relação a algo negativo, mas nos esquecemos dos rótulos positivos.
Elogiar (e corrigir) é diferente de rotular: como não rotular
Qual é a grande questão? Quer dizer que nunca podemos falar de características das crianças? Não, de forma alguma. O ponto-chave é que, quando as delimitamos, seja em algo negativo ou positivo, fazemos com que elas se enxerguem sob aquela ótica e perspectiva. Dessa forma, elas não entendem que, em determinado momento, apenas se sentem assim, mas não SÃO assim.
A criança pode ter momentos de tranquilidade e calmaria, mas não tem a obrigação de ser uma pessoa calma o tempo inteiro. Quando ensinamos para as crianças que elas podem ser várias coisas ao mesmo tempo, os rótulos não vão ser um grande problema.
O perigo e as consequências dos rótulos
Com os rótulos, a criança constrói uma máscara sobre si mesma e, em algum momento da sua vida, vai perceber que é muito mais do que pensa, mas precisará de muito esforço para se desprender disso.
Talvez você se pergunte “mas, Mari, mesmo quando é um rótulo negativo a pessoa usa isso como uma máscara?”. Sim, pois é vista por meio daquele rótulo, é reconhecida e aceita dessa maneira.
Então, a tendência é continuar naquele papel porque está sendo pertencente a algum núcleo e aceita por outras pessoas, pela família, no ambiente escolar ou no ambiente de trabalho.
Se isso acontece com o rótulo negativo, imagina com o positivo! Mais força a pessoa vai fazer para assumir aquela máscara, para ficar nesse lugar, porque assim ela se sente amada, aceita e importante.
O rótulo positivo é mascarado, mas tão grave quanto
O rótulo positivo vai passar mais batido que o rótulo negativo, e precisamos estar conscientes em ambos os casos, em relação a essas máscaras e personagens que influenciam a criança a somente agradar o outro.
Quando percebermos que a criança está presa em um rótulo, podemos ajudá-la nesse processo de desprendimento fazendo-a pensar: “se eu não tivesse que agradar ninguém, quem eu seria?”. Essa é uma pergunta para pensarmos sobre nós mesmos, também em relação às crianças, e darmos a elas a liberdade de ser quem são.
Claro que existem acordos, questões sociais, convenções sociais importantes, mas dentro de alguns limites, onde a gente não se machuque e não machuque o outro. Todos os dias à noite, quando vou amamentar o Matias para dormir, gosto de abençoá-lo e falar: “que você saiba que você sempre pode ser quem é”.
Para mim, é importante que ele durma com essa mensagem. Eu quero que ele tenha a certeza de que pode ser quem é. Precisamos sentir no coração como podemos passar essa mensagem para as nossas crianças, dando espaço para se sentirem amadas, aceitas e importantes para além dos comportamentos e das questões desafiadoras delas.
A melhor coisa é saber que somos amados como somos. <3
Um beijo.