A primeira coisa que precisamos ter em mente é que a criança não te desafia de propósito, por mal ou porque ela quer te testar (como tantas pessoas dizem por aí).
Eu vou te explicar o que está por trás desse desafio baseado na maturidade emocional da criança e na neurociência. Não é achismo e não é mito, o que vou te dizer é verdade e tem base científica.
A criança está passando por um processo de maturação cerebral no qual ela ainda não consegue regular suas emoções, aliás até nós adultos estamos neste constante processo de autorregulação das emoções não é mesmo?
No momento em que as coisas não saem exatamente como elas esperavam ou ao se dar conta de que são seres únicos que não dependem de nós para respirar, as crianças sentem necessidade de expor sua opinião, sua vontade, seu desejo. Elas precisam praticar suas escolhas para serem adultos saudáveis, capazes de fazer escolhas sozinhas, porém ainda não estão totalmente maduras para saber se aquela escolha é saudável para ela ou não, e nisso nós podemos e devemos ajudá-las.
Uma coisa muito importante na hora de lidar com essas situações desafiadoras é admitir que nosso ego de adulto fica ferido quando a criança nos diz NÃO ou NÃO ACEITA fazer o que a gente quer. Na relação com a criança nós queremos estar no controle o tempo todo, nós queremos ser obedecidos. Mas no final das contas, se pararmos para pensar bem, nós não queremos nos submeter às pessoas do nosso dia a dia e agir com obediência cega. Então, porque esperamos isso das crianças? Te convido a refletir sobre isso.
Entendido então o processo por trás desses desafios, quero compartilhar com você algumas dicas e estratégias para você nesses momentos de conflito.
Obs.: você pode usar com crianças de qualquer idade. Mesmo aquelas que não falam podem se expressar por gestos e expressões faciais.
1 – Use os Erros como oportunidade de aprendizado
Não seria maravilhoso se a gente desde pequeno aprendesse a usar o erro como uma oportunidade de aprendizado? Muitas vezes o foco dos adultos é em consertar o erro ou “pagar” pelo erro. Desse jeito, estamos ensinando às nossas crianças a ter vergonha dos próprios erros, mesmo sabendo que a nossa condição humana é a de sermos imperfeitos.
Tenho certeza que é com a melhor das intenções, mas isso nos distrai de olhar para o erro como algo que nos gera crescimento. Olhar dessa forma para o erro não significa que não vamos lidar com ele, pois sempre haverá consequências naturais (que não são “inventadas” pelo adulto, naturais mesmo).
Ensinar às crianças a olhar para os erros como oportunidades de aprendizado, as motiva a fazer melhor de uma próxima vez, sem afetar o seu senso de autoestima e de autovalorização.
Você pode dizer à criança: “Desta maneira não é saudável ou respeitoso com você mesma e com as outras pessoas, como você pode fazer da próxima vez?”
Se for difícil para a criança dizer a solução para a próxima vez, você pode dar algumas sugestões e deixar que ela escolha entre elas. As crianças sempre nos surpreendem trazendo soluções incríveis, basta a gente confiar.
2 – Dê um tempo positivo
Quando as coisas estão “puxadas” ou em estado “caótico”, pode fazer muito bem para todo mundo dar um “tempo positivo”.
Aqui não estamos falando de castigo ou cantinho do pensamento (pensar não pode ser um castigo ou algo ruim) ou de algo para fazer a criança se sentir pior. Estamos falando de uma estratégia respeitosa, que pode ajudar a criança e o adulto a buscarem equilíbrio, autocontrole e a se sentirem melhor.
Experimente criar um “cantinho da paz” ou o “lugar feliz”, um espaço agradável e de conexão. Experimente ir você primeiro para este lugar para se conectar com você mesmo e com sua criança e aproveitar para ensinar autocontrole para ela. Experimente envolver a criança na criação deste espaço como algo positivo. Vale combinar com a criança que pode ser legal dar um tempo positivo e usar esse espaço em situações desafiadoras. Depois de se sentirem melhor, todos estarão mais dispostos a trabalhar em uma solução conjunta.
3 – Faça perguntas que estimulam a criatividade
Algo fantástico acontece quando permitimos que as crianças sejam ativas no processo de tomada de decisões sobre como resolver as situações. Uma vez que abrimos esse espaço, elas nos mostram como são capazes de pensar por si mesmas e chegar a várias conclusões sozinhas. Mais uma vez aqui o foco está nas soluções e não nas consequências. Isso acontece com fluidez quando nós adultos damos um passo para trás e paramos de falar sem parar, apenas nos colocamos diante da criança fazendo perguntas que estimulam sua criatividade.
Algumas maneiras de fazermos isso é perguntando:
– O que aconteceu?
– O que está errado?
– Como você se sente sobre isso?
– O que você está aprendendo com essa situação?
– Você tem alguma ideia para resolver este problema?
Ps.: não vale fazer essas perguntas em tom de punição ou de vingança, senão não fará sentido algum. Use seu amor e sua empatia. Se estiver muito nervoso, dê um tempo positivo e só então volte para fazer as perguntas.
Bom, dada as dicas, eu deixo para você essa frase que eu amo para você refletir:
“De onde tiramos a absurda ideia de que, para levar uma criança a agir melhor, precisamos antes fazê-la se sentir pior?”
Jane Nelsen
Com amor,
Mari.