A primeira coisa que vem em mente quando me faço a pergunta “Por que educar uma criança com respeito?” é uma série de outras perguntas:
Por que deixar de educar uma criança com respeito?
O que poderia valer mais nessa vida do que estabelecer uma conexão profunda com os nossos filhos?
O que poderia ser mais importante do que olhar para um outro ser humano e considerá-lo como tal, mesmo que ele seja anos mais novo e menos experiente do que eu?
O que faz com que eu me sinta tão mais forte, tão mais poderosa, tão mais importante, tão mais sábia, para que eu ache que eu é que tenho que dominar e controlar, e que eu é que tenho todas as respostas, a ponto deste ser tão humano quanto eu não poder dar suas opiniões, não poder se colocar, não poder me contradizer?
Talvez porque estamos inseridos em lógicas um tanto quanto contraditórias sobre os papéis que devemos exercer. Nos confundiram há tempos sobre autoridade e poder, autoridade e controle, autoridade e força, quando na verdade a autoridade é apenas autoridade.
Autoridade é referência, é margem, é contorno, é presença definida, é clareza do meu papel.
Mas não é absolutamente nada além disso, não quando se deseja estabelecer relações respeitosas, porque qualquer adjetivo além disso, fará com que eu use a minha autoridade a serviço apenas de mim mesma, apenas a meu favor.
Talvez porque tenham nos colocado um medo profundo sobre o que pode nos acontecer como pais e mães quando não usamos o nosso poder, o nosso controle, a nossa força.
Vivem nos dizendo que nossos filhos podem ser marginais, que eles vão nos bater se não batermos neles, que eles vão até cuspir na nossa cara. Ah também nos dizem que eles vão se tornar pessoas horríveis. Com tantas ameaças e com o medo instalado nos nossos corações, dentro dessa lógica que só nos exige firmeza, ou melhor, que só nos exige punição, fica mesmo difícil seguir nosso instinto amoroso, ser gentil e firme ao mesmo tempo.
Eu te digo com toda convicção: firmeza não é punição e gentileza não é permissividade.
Mas deixa eu te dizer o que de fato, o que realmente vai acontecer se nós não usarmos o nosso poder, o nosso controle e a nossa força. Se nós usarmos apenas a nossa autoridade como referência, como margem, como contorno, como presença definida, com clareza do nosso papel. Se usarmos apenas a nossa firmeza e gentileza…
Se fizermos isso vamos estar aproveitando desafios com os nossos filhos para apoiá-los no desenvolvimento de uma série de habilidades emocionais e sociais.
Vamos estar criando agentes de mudança e transformação no mundo. Porque a partir do momento que eu me torno exemplo e referência e sou respeitoso, o mínimo que eu vou encontrar é um espelho meu também respeitoso.
O nosso mundo não precisa de mais pessoas desrespeitosas. O nosso mundo não precisa de crianças que se ajustem e aprendam a viver na loucura dele. O nosso mundo precisa de crianças que saibam mesmo questionar, que saibam mesmo provocar os adultos para que saiam de suas zonas de conforto. O mundo precisa de agentes transformadores, que levem outras propostas para quem já está tão imerso nele e não consegue enxergar.
E eu também quero te dizer o que vai de fato acontecer se nós continuarmos seguindo essa lógica de que para aprender tem que ser humilhado, tem que ser desrespeitado. Vou começar com uma frase de uma matéria da Folha de São Paulo de março de 2018:
“Nem a ciência nem a lei da palmada foram suficientes para convencer boa parte dos pais e cuidadores que castigos físicos não têm valor educativo, abrem feridas no psiquismo, prejudicam o desenvolvimento e devem, portanto, ser abolidos de uma vez”.
Eu ainda incluiria ao lado de castigos físicos: ameaças e punições verbais e emocionais, porque não é só o físico que machuca.
Uma boa parte de nós continua duvidando do que já foi provado, continua querendo que as coisas se resolvam naquele instante, que as crianças nos obedeçam a todo custo e que elas sejam submissas. E ao duvidar disso, e não rever as crenças sobre resoluções imediatas, aí sim, estarão correndo o risco enorme de criar espelhos que vão refletir aquilo que justamente ninguém quer ver sendo refletido. Desrespeito, vazio emocional, baixa auto estima, culpa, dificuldade de resolução de problemas, distanciamento emocional, insegurança, entre outras tantas coisas.
Mas aqueles que já se convenceram de que punições, sejam físicas ou verbais, não são educativas e não trazem bons resultados a longo prazo, esses já estão na jornada por uma Educação com Respeito.
Mesmo que não saibamos exatamente como fazer diferente. Mesmo que ainda estejamos inseguros. Mesmo que ainda não tenhamos todas as ferramentas e estratégias. Já estamos nesse caminho apenas por acreditar que ele vai valer a pena. E é essa crença, é estar convencido disso, que vai nos levar às respostas, ao apoio e à força que precisamos para educar com respeito. Não temos um manual. Mas temos um caminho.
Com amor, Mari