Muitas pessoas me perguntam: “Mari, o que eu faço com meu filho que só me fala não?”. Para respondermos e pensarmos sobre essa questão, vamos começar falando sobre nós, adultos. A primeira observação é: a criança não aprende a palavra “não” sozinha, certo? Então, precisamos fazer uma auto-observação sobre a quantidade de “nãos” que falamos para ela.
Não estou dizendo que não devemos colocar limites, mas existem formas sem precisar usar a palavra “não” o tempo todo. Se a criança nos vê negando várias coisas a ela dessa forma mais objetiva, quando a pedirmos algo, ela vai negar da mesma maneira.
Questionar é diferente de obedecer: o “não”é realmente tão necessário?
Queremos criar seres cegamente obedientes, que digam “sim” para tudo ou seres que vão questionar, vão saber colocar os próprios limites, recusar, que não querem fazer tudo para agradar os outros? Essa é uma reflexão que cabe fazermos até para nós mesmos.
Claro que também queremos filhos obedientes. Mas vamos entender que essa obediência não será cega. A criança vai questionar, sentir a necessidade de se impor e perceber que isso é positivo para a vida dela.
Nós, pais e responsáveis, vamos conduzi-la, colocar limites, aparar as arestas, mas ela vai mostrar também a sua opinião, seus desejos e os seus limites.
Como colocar limites sem falar “não” o tempo todo?
Uma dica é sempre dizer o que ela deve fazer ao invés de focar no que ela não deve fazer, porque assim a estaremos trazendo para a colaboração e cooperação. Isso vai ajudar para que ela aceite as coisas com mais facilidade. Fale diretamente o que ela deve fazer, pode fazer, falando na afirmativa e sendo mais assertivo e claro.
Quando fizermos um pedido para a criança e ela não quiser fazer e for algo muito importante, que não podemos ceder, podemos trabalhar essa cooperação entendendo os motivos da criança, o porquê, e conversar com ela sobre isso de uma maneira objetiva.
Podemos dizer para ela que entendemos, respeitamos seu sentimento, mas que é necessário fazer o que está sendo pedido; é aí que colocamos o limite, mas de outra maneira, percebe?
É tudo uma questão de prática e dedicação
Normalmente, falamos “mas tem que fazer, porque é importante, porque eu estou mandando, porque sou a sua mãe (ou pai)”. Dessa maneira, focamos somente na explicação do porquê tem que fazer, mas não fazemos a parte do acolhimento.
Tudo isso contribui para que ela se sinta ouvida na necessidade dela e facilita muito para a gente colocar o nosso limite também. Você pode estar pensando que, na correria do dia a dia, não é possível fazer isso. É um exercício mesmo, e na correria não conseguimos fazer várias coisas importantes na lógica de educar com respeito.
Algumas coisas vão precisar um pouco mais da nossa energia, dedicação, paciência e tempo — tanto questões de mudanças nossas, quanto mudanças da criança.
Outra dica para a hora que a criança fala “não”
Uma outra dica para quando a criança falar “não”, é perguntar ao invés de mandar. Troque o “vai logo escovar seus dentes” por “o que você pode fazer para manter os seus dentes limpos?” e “como você pode fazer para cuidar dos seus dentinhos hoje?”. Finge que você é a criança e se pergunte quantas vezes a mandou fazer algo. Se escutamos outra pessoa mandando várias coisas para você, como vai se sentir? Será que vai se sentir convidado e motivado a colaborar?
Essas perguntas ajudam a criança a desenvolver resolução de problemas, trazer as soluções e, com isso cooperar, colaborar, participar e se envolver nas coisas com mais auto responsabilidade — não somente para obedecer.
Deixo essa reflexão para nos ajudar a lidar com esses momentos em que a criança resiste e se mantém dizendo “não”. São mudanças e ajustes que partem de nós, mas que farão total diferença na postura da criança.
Abraços carinhosos.