dois irmãos, um menino negro, sorridente de aproximadamente quatro anos e com o cabelo raspado, sendo abraçado pela irmã sorridente, de aproximadamente cinco anor, negra, com o cabelo preso em tranças.

Como lidar com brigas entre crianças e educar com respeito?

Sinto que uma grande dor de pai e mãe é quando nossos filhos brigam. Por enquanto, eu tenho um filho só, o Matias, mas está nos planos ter mais filhos, e sempre que eu penso nisso, tenho expectativa de que sejam amigos. 

Imagino que, para você, não seja diferente. Acho que qualquer pai e mãe deseja amizade entre as crianças, para que cresçam unidas e tenham um relacionamento saudável. 

Por isso, é muito duro ver as crianças brigando. Quando elas brigam, é como se já acendesse um alarme: “elas não vão ser amigas; onde estou errando?”.  Isso faz com que acenda uma luz nas nossas sombras e na nossa história de vida. 

Como projetamos as brigas dos nossos filhos

Então, se tenho uma história de vida de um relacionamento difícil com meus irmãos ou algo parecido em relação à minha família, quando vejo as crianças brigando, os sentimentos afloram em mim. 

E aí, qual é a nossa primeira tentativa? Parar aquilo, acabar com a briga, fazer com que sejam amigos a qualquer custo. “Vocês façam o favor de se abraçar”, “peça desculpa”, “pare de fazer isso com seu irmão, pois, se não parar, vai ficar de castigo” etc. 

Passamos a interferir nessa relação. Mas é interessante pensarmos que essa interferência não é somente pelo relacionamento das crianças entre si e, sim, pelas nossas expectativas — mais para satisfazer “buracos” que foram ficando da nossa relação com outras pessoas. 

Por que interferimos na relação entre nossas crianças?

Precisamos estar atentos e conscientes quanto a isso: “por que estou interferindo nessa relação? Quero proteger? Tenho medo de alguma coisa grave acontecer, porque eles podem se machucar? Ou estou fazendo isso por projetar a minha história de vida neles?”. 

Esse é o primeiro passo para a gente estar consciente do que faremos diante daquela situação.

Quanto mais interferimos, mais desafiador fica para as crianças conseguirem sair desse lugar de briga e disputa. Por quê? Porque elas pensam: “quando brigo com meu irmão, a minha mãe e meu pai interferem, e eles me defendem”.

Naturalmente, sem perceber, você vira o “juiz” da história e começa a apontar quem está certo e quem está errado — e isso faz com que a criança interprete “as suas preferências” em relação a ela ou não. 

Assim, as crianças começam a construir crenças e interpretações sobre o amor e sobre o seu relacionamento com elas. Aí, fica muito difícil sairmos desse lugar e de mostrar para elas que, na verdade, amamos todos, sem competições! 

Interferir na briga não ajuda as crianças a desenvolverem habilidades emocionais

Outro ponto, é que, quando interferimos, impedimos que as crianças desenvolvam habilidades emocionais para lidar com os problemas partindo de soluções criadas por elas mesmas. 

Elas param de brigar porque estamos mandando, param de bater uma na outra porque dissemos que precisam se abraçar ou porque as ameaçamos de não saírem para o parquinho.

Nesse sentido, elas começam a se controlar, a moldar seus comportamentos a partir de um controle externo — que vem do outro —, e não delas mesmas. 

O que queremos em termos de habilidades emocionais para as crianças? Desejamos que desenvolvam a habilidade de controle interno. 

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

Afinal, como podemos ajudar as crianças em momentos de brigas?  

Essas dicas servem tanto para as crianças que são irmãos, quanto primos, amigos e colegas: qualquer conflito envolvendo mais de uma criança. 

Quando as crianças são maiorzinhas

Devemos nos aproximar delas e dizer: “estou vendo esse conflito acontecer e essa situação. Mas, como vocês podem resolver juntos?”. Jogue a responsabilidade para elas, pois são capazes disso. 

Talvez você fique inseguro de fazer isso por medo de como será esse processo, mas, confie na criança! Dê a ela a oportunidade de resolver — ou pelo menos tentar. 

Diga: “desde que seja respeitosa, vocês podem construir qualquer solução. Qual ideia vocês têm para essa briga parar? Qual ideia vocês têm para resolver?”.

Instigue a vontade de criar soluções!

Quando são crianças pequenas

Será que se eu falar isso vai gerar mais confusão? Talvez elas não tenham noção dessas soluções, e possam continuar se machucando. Aí, sim, claro, vamos interferir, seja separando-as ou criando um momento para se acalmarem e, depois, criarem uma solução. 

Um caso prático de como lidar com briga entre crianças

Vamos precisar, talvez, trazer as opções de soluções para elas. Eu tenho um exemplo de uma aluna que tem um filho só. Ele convive muito com seu primo. Os dois estão sempre juntos, e sempre brigaram. 

A solução que ela optou, já que eram crianças pequenas, foi: conversar com eles no momento em que as coisas estavam tranquilas, bem resolvidas, e trazer os conflitos mais comuns: “vocês costumam brigar por brinquedo, para ver quem vai começar primeiro etc., então, agora, vamos pensar, juntos, o que podem fazer quando a raiva vier ou quando ficarem chateados um com o outro”. 

Daí, ela foi conduzindo: “fulano, quando você estiver com raiva, o que acha de pegar um travesseiro e gritar com ele em vez de gritar com seu primo? O que acha de chutar uma bola na parede até a sua raiva passar?”. 

Ela foi trazendo as soluções e eles foram se envolvendo, falando o que era “ok” ou não — apenas soluções respeitosas, claro. E construiu como se fosse uma pizza, em que cada fatia fosse uma solução. 

Depois disso, quando brigaram, trouxe o quadro para o conflito e falou: “lembram-se das soluções que criamos para esses momentos?  Vamos sortear ou escolher qual usaremos?!”. E SUPER funcionou! 

Então a solução é essa?

Não estou dizendo que vai funcionar com todas as crianças, mas é uma sugestão para fazermos, principalmente, com crianças menores, que ainda não vão ter a habilidade de trazer, por si só, as soluções. 

Mas olha que incrível, que oportunidade estamos dando de lidarem com suas emoções de forma diferente, e de termos uma postura diferente da que foi usada na nossa geração! 

Não estou dizendo que nossos pais e avós fizeram tudo errado, mas, hoje, temos consciência sobre a importância de lidar com as emoções e de não somente resolver o conflito. Afinal, os conflitos fazem parte da vida. 

Mas, na vida, a gente não vive sem conflito. Então, o que é importante? 

O que precisamos ensinar para as crianças, e também aprender, é lidar com os conflitos sem violência. 

Esse é o nosso grande aprendizado! Mas ficamos, muitas vezes, batendo na tecla do “não conflito”, porque ter conflito, muitas vezes, nos volta para as nossas dores, incômodos e expectativas. 

O MAIS IMPORTANTE é olhar para esse conflito e aprender a lidar com ele sem violência da nossa parte para com as crianças e sem violência entre as crianças.

É uma grande oportunidade, na lógica da educação com respeito, de evoluir, aprender e se desenvolver junto com elas. 

Espero que tenha gostado dessas dicas. 

Um beijo, e até o próximo encontro.

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

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