menina de cinco anos de cabelos encaracolados

Meu filho não me escuta. Será?

Frequentemente, nós, adultos, dizemos que as crianças não nos “escutam”. Sentimos a dor e a frustração de falar, pedir, repetir mil vezes a mesma coisa e não obter o resultado esperado. Dessa maneira, colocamos nosso foco no “problema” da criança, e pouco realizamos o exercício de auto-observação.

Afinal, temos “certeza absoluta” de que nossa comunicação está sendo suficiente, uma vez que deixamos claro, repetimos ou até gritamos “o que precisa ser feito”. Então, por que elas não nos escutam?

Por que isso acontece?

Muito provavelmente, porque estamos sempre falando, não proporcionando, a elas, chances de falar. Todos desejam ser escutados, o adulto e a criança. Sentimos que é obrigação da criança nos escutar, mas não nos colocamos na obrigação de escutá-las.

Isso porque ainda nos encontramos no padrão de nos acharmos mais fortes, poderosos e no controle das coisas — mesmo que de forma inconsciente e, por conta do “piloto automático”. Quando começamos a nos dar conta de que ouvir uma criança é parte de uma relação de ser humano para ser humano, de um exercício de respeito e dignidade, passamos a colocar a atenção e o foco nos nossos padrões e a buscar formas de agir mais igualitárias e respeitosas com elas.

Uma sugestão para a comunicação com seu filho

Você pode separar momentos na rotina para ouvir a criança: vocês podem conversar, por exemplo, sobre “como foi o dia”!  Mesmo que a criança ainda não fale, separar um momento para ficar em silêncio, ouvindo e observando seus sons e suas diversas formas de comunicação é valioso, e pode ser um primeiro passo para tornar a escuta ativa e consciente (um novo modelo e padrão de relacionamento).

Outra sugestão para trabalhar esse aspecto é observar se estamos interrompendo a criança com frequência: por exemplo, quando ela está contando algo em um clima amigável ou quando está colocando suas ideias e argumentando.

Podemos checar, nesses momentos, se estamos agindo de uma maneira em que somente “queremos ser ouvidos e ponto” ou se estamos dando espaço para a criança falar.

Você pode não ter sido ouvido

Lidar com a opinião de uma criança quando não nos deram a chance de posicionar a nossa quando nós éramos crianças é muito desafiador. Nesse momento em que nossos filhos estão tendo a oportunidade de ter vez e voz, a nossa criança interior, possivelmente ferida por não ter tido vez e voz, se revolta, se indigna.

Afinal, como sair desse conflito tão interno e profundo?

Primeiramente, tomando consciência sobre o quanto fomos ouvidos, ou seja, reconhecer e acolher nossa criança ferida, para, então, dar conta de acolher nossos filhos. Sempre é possível!

Uma forma de fazer isso é estando conscientes de nós mesmos e voltar atrás quando nos perdemos nos nossos antigos padrões. Não tem problema errar, voltar atrás, cometer deslizes…

Nesses momentos você pode respirar, acolher-se e dizer para o seu filho ou filha: “Eu me importo com o que você tem a dizer. Estou aberto(a) para te ouvir!”. Para finalizar, lembre-se de fazer perguntas. Quando perguntamos algo para a criança, de forma respeitosa e realmente desejando saber a opinião dela, ela se sente muito importante, aceita, amada e pertencente à família.

Quando a resposta vier, acolha. Conheça e permita que o(a) seu(ua) filho(a) se expresse no lugar onde ele mais precisa , em casa (em todos os sentidos dessa palavra). Se for uma resposta não respeitosa ou uma solução que não corresponda ao que você considera aceitável, continue perguntando e lidando com a opinião dele(a), até que vocês, juntos, encontrem uma solução respeitosa para todos.

Expresse-se também, se coloque, mas não do lugar da sua criança ferida. Faça isso do lugar de adulto que hoje você é, capaz de ouvir e ser ouvido.

Com amor, Mari.

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

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