Mulher sentada na cama olhando para o chão preocupada

Educar a criança cuidando da frustração do adulto

Como você se sente quando a sua criança não faz o que você quer? Como você se sente quando a sua criança faz algo oposto ao que você falou? 

Estou fazendo essas perguntas porque elas são muito importantes para entendermos algumas reações que temos ao comportamento da criança. Não é incomum nos observarmos querendo controlar a criança quando na verdade sentimos que não temos o controle porque ela está fazendo algo que não gostamos. Acionamos um “botãozinho” que nos impulsiona a querer de qualquer forma que a criança nos atenda. A qualquer custo! Assim não sentimos que estamos perdendo o controle. 

Olhando de fora assim, não te parece uma situação familiar, como uma espécie de “birra” do adulto?

Acredito que frequentemente nós adultos damos as nossas birras com as crianças mas não percebemos porque temos quase um aval para fazer isso, já que para a sociedade de forma geral os pais têm que estar no controle e no poder. Não nos ensinaram que não precisamos disputar poder com a criança porque nossa autoridade já é algo natural. Não nos ensinaram que exercemos nosso poder e controle quando na verdade a nossa criança interior está gritando por isso.

“Se você foi muito machucado, desapoderado e humilhado, é muito provável que, estando numa posição de poder e autoridade perante a criança, você se perca e queira abusar desse falso poder. Dessa maneira, você acaba reeditando o seu passado no momento presente. o que significa que você repete a sua história através da criança e transmite para ela as suas misérias” (Sri Prem Baba em um trecho do seu livro “O propósito”)

No papel de pai e mãe nos sentimos fortes diante de nossos filhos. Mais poderosos por essa autoridade e com mais direito de controlar. A nossa criança interior, ferida por não ter tido voz e vez, grita cada vez que a gente como adulto não é escutado, não é atendido.

É bem provável que na verdade nós estamos frustrados por dentro e não sabemos lidar bem com isso. Nós não sabemos lidar com a nossa frustração porque quando estivemos frustrados na nossa infância, possivelmente ouvimos:

“você não tem que querer nada”,

“você não escolhe”,

“você tem que me obedecer”,

“faça isso porque eu estou mandando”.

A dor de ter a nossa frustração silenciada, é tão grande que repetimos a história. Repetimos porque não nos damos conta de que é essa dor que está fazendo a gente agir dessa forma.

No entanto, percebo esses momentos de frustração de nós adultos com os filhos, como uma ótima oportunidade para resolvermos isso. Uma ótima oportunidade para olharmos para isso, para fazermos por nós aquilo que não conseguiram fazer quando éramos crianças.

Se no momento em que o seu filho te contraria e você percebe a sua frustração, se nesse momento você puder fechar os olhos e fazer por você mesmo aquilo que nós na Disciplina Positiva estamos dizendo para fazermos com as crianças, validar os sentimentos, você estará ajudando muito a sua ferida a se curar.

Você mesmo pode validar os seus sentimentos, com os os olhos fechados, se conectar com você e simplesmente dizer no seu intimo: “Eu percebo que você está frustrado. Percebo que você gostaria muito que o seu filho fizesse o que você quer. Eu te entendo de verdade. Ele é um outro ser humano, não é você, pode fazer escolhas diferentes. Vai ficar tudo bem. Você não vai perder o controle. Está tudo bem. Ele é apenas uma criança e você é o adulto da relação. Entendo que você esteja frustrado e vamos encontrar soluções respeitosas para todos.”

Não vamos dizer que esse exercício e todas as novas reflexões que estamos fazendo com esse texto sejam fáceis. Não são. Precisamos estar dispostos a olhar para gente e precisamos desejar fazer diferente. Mas eu acredito que se você está lendo esse texto, é porque já está buscando isso. Então eu tenho certeza que assim que você experimentar esse exercício, ele pode ser muito possível e transformador para você.

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

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