Diariamente recebo mensagens com perguntas sobre o que fazer com a criança quando ela joga tudo no chão, ou, o que é pior ainda, nas pessoas. Muitas pessoas me dizem que já tentaram de tudo, mas o que eu percebo é que ainda não tentamos entender o que está por trás desse comportamento.
Percebo que levamos esse comportamento da criança para o lado pessoal, como se elas estivessem fazendo isso de propósito, para nos irritar ou nos provocar. E ao não nos obedecer, concluímos que são mal educadas ou que nós estamos fazendo tudo errado.
Nos preocupamos também com o que os outros vão pensar. Mas novamente, seria importante, em primeiro lugar, que a gente se preocupasse com o que está acontecendo no cérebro da criança nessas horas.
Quero começar a explicação dizendo: crianças são pequenos cientistas!
Elas estão experimentando, criando hipóteses e checando se aquela hipótese é verdade ou não o tempo todo.
– “Esse objeto é pesado? Se eu jogar daqui do cadeirão, o será que acontece?”
– “Qual o movimento desse objeto? Onde ele vai parar?”
E essas hipóteses não são apenas sobre os objetos mas também sobre as próprias crianças e sobre nós adultos.
– “Será que eu sou forte? Será que eu consigo fazer esse movimento?”
– “Qual a expressão dos adultos quando isso acontece? Que sentimentos eles revelam?”
Tudo isso acontece muito rapidamente e precisa ser testado várias vezes para que se tenha uma conclusão. Você e eu também fizemos isso quando éramos crianças. Todas as crianças fazem isso, e fazem isso justamente porque é preciso.
Até o fim do segundo ano de vida o cérebro desenvolve 80% da sua capacidade. Imagina que as crianças só têm 20% para desenvolver no resto da vida! Se não experimentarem, se não tentarem, se não forem esses pequenos cientistas agora, estarão perdendo neurônios e a chance de aproveitar todo o seu potencial.
A criança age assim porque segue seu impulso de aprendizado e porque ainda desconhece seus limites.
Repetir centenas de vezes ‘não faça’, ‘não jogue’, ‘coloque no lugar’, ‘tire a mão’ é muito desgastante para ambos os lados. Nessas horas vale a pena usar o mantra: “até que ponto isso é importante?”
Pode ser que ao jogar um objeto a criança vai se machucar ou machucar outra pessoa, nesse caso, pode ser importante intervir. A fala nem sempre é a melhor intervenção. Podemos distrair a criança com outra situação e levá-la para outro foco.
Se for uma situação na qual não envolva riscos, podemos decidir não escolher essa batalha e permitir que a criança use seu potencial de “cientista”.
Cabe a cada um de nós avaliar esse momento e os riscos. Ao invés de nos ocuparmos pensando só o que é que vamos fazer com a criança se ela não parar aquele comportamento, podemos pensar o que será que nós mesmos, adultos, vamos fazer. Vou respirar fundo e contar até dez? Vou escolher deixar ela brincar pois não há riscos? Vou usar outro objeto para atrair sua atenção?
Pode ser muito útil cuidar do nosso autocontrole nessas horas. Talvez não seja fácil no início, mas com certeza vai valer muito a pena o esforço. Espero ter contribuído com você que está passando por essa situação.
Lembre-se: nossas crianças só têm essa chance e essa fase para se desenvolver plenamente sendo o que elas são: crianças. Algumas coisas não voltam mais.
Com amor,
Mari.