criança, menina, de aproximadamente quatro anos, com a cabeça baixa e as mãos sobre o rosto, em sinal de desapontamento.

Quando meu filho não faz o que eu quero

“Meu filho quase nunca faz o que eu peço…o que eu posso fazer pra mudar isso?” 

Essa é uma pergunta que eu recebo muito…

Vamos nomear esse sentimento de frustração quando a criança não corresponde com aquilo que esperávamos? É basicamente pensar em “expectativa versus realidade”

Queremos uma resposta pronta para que a criança obedeça e para QUE EU não fique frustrada e não precise lidar mais com aquela situação, não é mesmo? 

Bom, como podemos lidar com isso? A frustração pode não ser somente devido ao comportamento da criança, mas pela cobrança existente em cima de nós sobre tudo: trabalho, relacionamento amoroso, família etc.

De onde vem a nossa frustração quando a criança não faz o que queremos?

Ao lidarmos com tantos desafios e responsabilidades diárias, acabamos “explodindo” com a criança quando ela nos contraria. Mesmo tendo consciência de onde vem aquele MEU sentimento de frustração, ainda assim continuarei explodindo, e é natural. É um exercício. Precisamos de tempo. E é o primeiro (e importantíssimo) passo para mudarmos a situação que nos estressa e nos tira do prumo.

Cada um de nós “perde o controle” de uma forma, seja chorando, gritando, batendo, descontando em alguém etc. Como você lida com as suas frustrações? É preciso identificar os seus gatilhos antes de tentar mudar o comportamento da criança.

Uma coisa que eu sempre digo é que nós focamos somente na birra da criança, mas também temos as nossas. E falo isso sem tom de julgamento, mas para refletirmos um pouquinho sobre isso. Quando a criança nos contraria, também fazemos birra, manifestamos nosso descontentamento, ou descarregamos em algo…e a sociedade nos permite isso!

Quem nunca explodiu com o companheiro ou companheira? Quem nunca chorou de frustração? Quem nunca gritou, bateu em algo, fez pirraça quando contrariado? Nós fazemos isso, e em nós isso se chama “aliviar a tensão”; “descarregar para não explodir”; “desabafar”. 

De forma contrária, é um absurdo a criança fazer birra, mas o adulto fazer é normal. Nós, adultos, já tivemos uma boa parte da vida para aprendermos a lidar com as nossas emoções — só que para muitos de nós, a grande maioria na verdade, e eu me incluo nisso, agir com maturidade 100% do tempo ainda é um processo complexo cheio de idas e voltas! Imagina para a criança?

Muitos de nós tivemos as emoções silenciadas, fomos punidos e/ou agredidos. E quando a maternidade/paternidade chega, ainda não tivemos a oportunidade para superar tudo o que nos foi reprimido ou sequer nos damos conta disso, e aí, a birra dos nossos filhos, o fato de eles não fazerem o que queremos, o comportamento desafiador nos tira do sério, nos sacode por dentro, nos desestabiliza.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

Pare e pense: por que o comportamento dos nossos filhos mexem tanto com a gente? Isso diz mais deles ou de nós mesmos? Porque as crianças, desde que o mundo é mundo, naturalmente nos impõe desafios, naturalmente agem com imaturidade. Por que insistimos em achar que são os nossos filhos que têm algo de “errado” e que precisam necessariamente mudar para atender às nossas expectativas ou às expectativas da sociedade?

Nós responsabilizamos somente a criança, mas a pergunta inicial deveria ser: “o que eu vou fazer para lidar com a minha frustração, antes de lidar com o comportamento do meu filho?” 

Ao invés de pensarmos “o que eu faço com essa criança?“, “qual ferramenta aplico nessa situação?”, deveríamos reconhecer a nossa frustração, que na maioria das vezes surgiu simplesmente porque nossos filhos fizeram tudo diferente da nossa expectativa.  

Coloque isso para a fora, divida com alguém, com o seu parceiro(a), peça um abraço….Tire um tempo para pensar!

Há dias e dias. Mas foque no HOJE! 

Alguns dias serão mais difíceis. Nem sempre a mesma solução vai dar certo. Às vezes, ir para o quarto e gritar com o travesseiro, e não com a criança, vai ser suficiente, mas, às vezes, não. 

A melhor forma de ensinar a criança a lidar com a frustração é dando exemplo de que também tentamos lidar com a nossa. Precisamos entender que essa decisão é diária: “o que vou fazer para lidar com a minha frustração, HOJE?” Cada dia é um desafio diferente, que demanda uma solução diferente. 

Então para que nossos filhos nos escutem, e para que façam o que pedimos, primeiro precisamos dar o exemplo! Nós escutamos nossos filhos? Estamos atentos às suas necessidades?

Podemos também trazê-los para um lugar de decisão junto com a gente. A gente pode convidá-los a participar das decisões da casa, a participar dos planos, quando os filhos participam da rotina da casa com um papel ativo, eles se sentem mais atraídos a escutar e participar de um diálogo.

Uma coisa muito interessante e que funciona muito bem é sempre antecipar o que vai acontecer, principalmente com as crianças menores.

Então, podemos anunciar o que vai acontecer em seguida, “filho, daqui a pouco nós vamos tomar banho, e logo depois do banho jantar”…”filho, tá quase na hora do banho, e o que vem depois do banho?”. Antecipar, dar previsibilidade para as crianças.

Um outra forma é sempre fazer combinados, claro, mais uma vez, com a participação ativa da criança, ela precisa se sentir participante, do contrário perde o interesse e não vai se sentir convidada a escutar uma imposição.

São várias as estratégias que podemos usar para que nossos filhos nos escutem e façam o que estamos pedindo (não é mandar, é direcionar). Mas nenhuma ferramenta é eficaz se não entendemos que primeiro precisamos olhar para a nossa frustração e como ela nos leva a agir. Só depois de olharmos para nós mesmos e para nossas frustrações conseguimos de fato nos conectarmos com a criança sem levar seus comportamentos desafiadores para o lado pessoal.

Espero que essa reflexão possa te ajudar na relação com seu filho.

Me conta se fez sentido pra você?

Com amor, Mari!

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

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