Meu filho mente: e agora?

Hoje vamos falar sobre um assunto que eu sei que muitos de nós, senão todos, passamos em algum momento com as crianças: a mentira. 

Recebo com frequência perguntas como “Mari, o que eu faço quando meu filho mente?” e “como lido com isso de forma respeitosa?”. Realmente, é desafiador lidar com a mentira. Ela assusta. E sabe por que isso acontece? 

A mentira da criança é algo sério? Devemos nos preocupar?

A mentira mexe muito com a gente, principalmente porque a projetamos para o futuro, como algo grande, como se, a partir dela, a criança fosse fadada a ser mentirosa. Imaginamos que ela possa ser um adulto que vai enganar as pessoas e fazer algum mal com suas mentiras. A nossa mente nos leva a um lugar mais agravante.

Não estou dizendo que existem mentiras aceitáveis.Todas as mentiras são desagradáveis, e o ideal seria não precisarmos lidar com isso. Mas faço um convite para uma nova visão a respeito disso: podemos lidar com a mentira do tamanho que ela é, e não do tamanho que pode vir a ser. 

A reflexão é no sentido de vivermos a mentira com as nossas crianças no presente, e não no futuro.

Por que as crianças mentem?

Existem momentos em que a criança não tem dimensão de que está mentindo, porque, em determinadas idades, principalmente por volta dos 2, 3 anos, ela vive um período de fantasia. Algumas coisas, ela realmente não faz ideia e não tem consciência de que são mentira. 

Na mente das crianças, muitas coisas podem parecer verdade. Isso também não quer dizer que não devemos acreditar nelas. Às vezes, elas nos contam algo e duvidamos, mas nem tudo é fantasia.

Parece desafiador, e é, mas não existe uma receita de bolo. Vamos precisar analisar caso a caso. Será que essa é uma situação do “faz de conta” ou uma situação real? É um acontecimento que mostra perigo? Precisamos investigar? 

Eu prefiro partir do pressuposto de acreditar na criança. Mas, como assim?

Como saber se meu filho está mentindo?

Mais uma vez, precisamos identificar a fala da criança e estar junto com ela tentando não tirar conclusões antecipadas, mas oferecendo o apoio que ela precisa diante do seu relato, por mais que pareça fantasioso.

Situações como a criança pegar uma coisa de alguém e falar que o coleguinha emprestou, sendo que ela pegou, são comuns, e vão acontecer. A nossa tendência, por conta do medo do ser humano que ela vai se tornar, é acionar uma punição.

Já começamos a falar que ela mentiu, que precisa ficar de castigo, que nunca mais vai poder brincar com o amiguinho. A consequência disso? Não permitimos que ela desenvolva uma experiência interna em relação a fazer uma escolha ruim. 

Sem querer, não deixamos a criança acessar isso em primeiro plano a partir dela mesma, pois já provocamos o desconforto externo, normalmente da punição. 

Como ensinar a criança sobre as consequências da mentira?

Como podemos ajudar a criança a lidar com as consequências dessa escolha, mas de maneira respeitosa? Primeiro, não indo para esse lugar no futuro, tentando manter os pés no presente.

Depois, conversar e perguntar como ela está se sentindo e o que ela gostaria de falar sobre aquela situação. Esse diálogo é muito possível porque, normalmente, a criança já sabe conversar e tem uma linguagem elaborada.

Quando perguntamos “o que você quer me falar sobre isso?” e “como se sente diante dessa situação?”, permitimos que a criança experimente os seus sentimentos e pensamentos que estão relacionados à decisão da mentira. 

Vamos permitir que a criança acesse, primeiro, essa experiência interna, ao invés de transformar o que ela está sentindo em raiva por conta das nossas punições, que irão apenas abafar o desconforto e os sentimentos dela relacionados a essa experiência.

Quando falamos de educar com respeito, falamos que as soluções passam pelas experiências internas da criança, e não somente pelas externas. 

Espero que tenha feito sentido para você.

Com carinho,

Mari.

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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