Vamos falar um pouquinho sobre como nos sentimos quando falamos “não” com as crianças e elas não aceitam? Tenho a sensação de que a nossa expectativa é que elas recebam e aceitem o “não” na mesma hora.
Por criarmos essa expectativa, sofremos, até porque, na nossa infância, ouvíamos o “não” dos nossos pais e tínhamos que ficar em silêncio, sem fazer birra, senão apanhávamos, íamos para o castigo ou ouvíamos “é não porque sou seu pai ou sou sua mãe”.
Um olhar para o “não” que recebíamos na infância
Queremos que nossos filhos recebam o “não” como recebíamos. Mas sob qual condição aceitávamos esse “não” tão fácil, sem reclamar, bater e gritar? Sob condições negativas de ameaça, punição, vergonha e humilhação. Esperamos o mesmo para os nossos filhos?
Essa é a pergunta que precisamos fazer, principalmente por estarmos buscando educar com respeito — que não funcionará se usarmos as estratégias anteriores. É como se pensássemos: “vou pelo mesmo caminho, mas quero usar o mesmo transporte para chegar em um lugar completamente diferente”.
Esse lugar das punições, das ameaças, da humilhação e da obediência cega é o mesmo “transporte” que as outras gerações usavam. Não estou criticando as outras gerações, mas chamando à reflexão. O transporte agora é outro, é o do respeito, que não tem a ver com permissividade, mas com ser gentil e firme ao mesmo tempo.
Precisamos ajustar a nossa expectativa
Hoje, quando falo “não” para o meu filho, qual é a minha expectativa? Então, vou ajustar isso sabendo que a criança tem direito a ter vez e voz, a se colocar, a ponderar, dizer a sua vontade e notar a própria individualidade.
Esse é o ponto de partida: a forma como olho para essa criança. Considerando isso, ainda assim podemos pensar: “mas existem situações em que eu realmente preciso que a criança acolha esse meu “não”.
Tudo bem que existem situações em que precisamos manter a firmeza, mas devemos lembrar que podemos ser gentis, e que vamos lidar com a frustração da criança depois.
A importância de lidar com a frustração
Quando falo “não” para a minha criança considerando a individualidade dela, acolhendo sua necessidade de mostrar que não era aquilo que ela queria fazer, que ela não está aceitando bem aquilo, trabalhamos a frustração.
Se não fizermos isso, mais uma vez caímos no lugar antigo. Às vezes temos dificuldade de lidar com o que vem depois. Eu quero ser gentil e firme, mas não quero lidar com a frustração do meu filho.
Mas se necessariamente estou olhando para essa criança em uma condição de respeito, preciso aprender a lidar com a frustração dela, porque na hora que eu tiver que ser mais firme e não puder oferecer outras possibilidades e dialogar no sentido de equilibrar as escolhas, em uma situação em que o “não” tenha que ser a única possibilidade, vou ter que:
- Lidar com a frustração;
- Acolhê-la;
- Dizer para ela que entendo que ela gostaria fazer determinada coisa, mas não pode, por causa de tais motivos;
- Sustentar isso.
Como falar “não” com leveza
Devemos sempre pensar o que é possível ajustar para oferecer escolhas e buscar a cooperação da criança. Exemplo: vocês estão no parquinho, em que você tem que ir embora e não dá para oferecer mais tempo. Que tal ir embora cantando e pulando contando quantos passos dão até chegar no carro?
Se o “não” tem que ser firme, que eu faça valer minha criatividade, que eu possa ser flexível para modificar outras coisas dessa cena e ajudar a criança a se sentir mais parte do que vai acontecer, sem parecer que sou eu que estou impondo todas as coisas.
Eu imponho a hora de ir embora, como ir embora, tudo do meu jeito. Por que não pensar em situações que podem ser do jeito da criança? A hora de ir embora não tem como ser, mas existem outras coisas que podem ser do jeito da criança para ela se sentir também aceita, amada e importante.
O que fazer com meu filho quando ele não aceita o “não”?
Tudo que estou dizendo tem a ver com a nossa expectativa sobre quando falamos “não” com a criança. É muito importante termos clareza disso, porque é o que vai gerar a mudança.
Não é o que você faz com seu filho, é o que você faz consigo mesmo, é o seu olhar, o jeito de falar. Não se trata de modificar as crianças, mas de modificar a nossa expectativa e a nossa forma de lidar com a frustração das crianças quando realmente o “não” é necessário.
Espero que essa reflexão possa te ajudar!
Com amor, Mari