DISCIPLINA POSITIVA E PERMISSIVIDADE

menino sorrindo

Algo muito comum de acontecer quando começamos a conhecer a disciplina positiva, algumas estratégias, recursos e dicas, passamos a questionar a permissividade em nossas ações. Ficamos com receio de sermos permissivos ao flexibilizar, fazer perguntas, oferecer escolhas, enfim, ao usar algumas ferramentas da disciplina positiva. Por que será que isso acontece?

Primeiro, porque eu acho que ainda não temos um conceito tão bem estabelecido do que é a permissividade, assim como já temos do que é a punição. E no momento em que conhecemos a disciplina positiva também não temos um conceito firme sobre ela — ainda estamos experimentando, conhecendo, testando, sentindo como vai ser essa nova abordagem nas nossas vidas com os nossos filhos.

Então é supernatural termos dúvidas, mas, às vezes, elas passam à beira da desconfiança. E nós, que fomos criados numa lógica muito punitiva e rígida, quando precisamos ou sentimos vontade de usar alguma estratégia que flexibilize um pouco mais as coisas, sentimos medo de chegar nesse lugar da permissividade.

Disciplina Positiva X Permissividade

Quero compartilhar com você o que eu entendo, percebo e sinto de diferença entre essas duas coisas. Disciplina positiva não é permissividade, mas a união da gentileza e da firmeza. Existem limites sim, eles são importantes e colocados, só que com respeito à criança.

Saímos do lugar “quem manda aqui sou eu”, “estou falando porque eu sou seu pai, porque eu sou sua mãe e pronto, acabou” para colocar os limites para escolher as batalhas que fazem sentido, de uma forma respeitosa. Quando oferecemos escolhas para a criança, por exemplo, às vezes nos questionamos se estamos sendo flexíveis ou cedendo demais.

Na permissividade, temos pouquíssima consciência do que é ou não importante para mim, aceitável na minha casa e na minha família. Porém, quando estou na disciplina positiva, tenho consciência disso; eu raciocínio sobre as coisas que desejo e preciso colocar limites e sobre as coisas que sou capaz de flexibilizar e ceder.

Para quem está no lugar de permissividade, tanto faz. Tanto faz o que é aceitável ou não. Beira um pouco a negligência, sabe? A pessoa não sabe desses próprios limites, não reconhece os seus próprios limites para colocar os limites na criança, não se conecta com a criança e não existem regras.

Viver de maneira mais leve não é o mesmo que permissividade

Quando você flexibiliza porque não se sente ultrapassando seus valores, está tudo bem. A vida nos pede flexibilização, mudanças de opinião e na maneira de pensar. Quantos de nós pensávamos há um tempo que as coisas só deveriam ser resolvidas com bater, gritar e xingar?

Hoje nós estamos aqui porque alguma coisa se transformou dentro de nós, nos fazendo entender que é possível educar com respeito. Se realizamos essa mudança tão importante de pensamento e de práticas, claro que no dia a dia algumas coisas não vão nos incomodar mais e conseguiremos viver de maneira mais leve.

A criança não pode aprender sozinha

Na permissividade, a criança aprende sozinha e, na disciplina positiva, em momento algum isso acontece. A grande questão é que criaremos regras com a criança, que respeitem o movimento, a individualidade e a opinião dela.

Quando damos voz e vez para a criança, isso não é permissividade. O fato de darmos esse espaço não é permissividade. Seria permissividade se a gente desce vez e voz e não considerássemos a nossa vez e a nossa voz também, entende?! Completamente tudo solto!

Então, para mim, existe um abismo — quase — entre disciplina positiva e permissividade. E isso precisa ficar mais claro para que a gente possa ter mais confiança na prática da disciplina positiva e em nós mesmos quando estamos experimentando as estratégias com as crianças, sem ir para esse lugar de julgamento e de culpa.

Vamos julgar menos e acolher mais

Lembrando também que aquilo que é importante para mim pode não ser tão importante para outra família. Às vezes, para uma família, a criança pular em cima do sofá com o pé sujo vai ser um problema, e é um limite, enquanto para outra família está tudo bem.

Então, muitas vezes, julgamos também de permissividade coisas que não são “ok” para a gente mas que são “ok” para outras famílias, e isso é uma questão de respeito, de entender que cada família tem a sua logística, regras e percepções sobre o mundo.

Quanto mais respeitarmos isso no outro, mais iremos respeitar as nossas escolhas também. Espero que tenha gostado da reflexão.

Com amor, Mari.

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4 respostas

  1. Sempre o texto certo na hora certa. Passei por uma situação assim hj. Ñ me deixei envolver pela culpa. Fui flexível e ofereci escolhas. Ganhamos nos duas e ficamos felizes juntas. Foi lindo.

  2. Mari, temos tentado aplicar a disciplina ao máximo, mas é difícil. Nem por isso deixamos de tentar.
    Temos sempre uma dúvida, qual a diferença entre ameaça e falar a consequência dos atos? Por exemplo, se você jogar seu brinquedo você não poderá mais brincar com ele porque estará quebrado.

  3. Mari precisava desse texto É exatamente assim que me sinto. Ora permissiva ou autoritária. Uma bagunça em mimha mente que só quer educar com a disciplina positiva. Muito obrigada. Deus te abençoe

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Mariana Lacerda

Mariana Lacerda

Mariana Lacerda é TERAPEUTA OCUPACIONAL, MESTRE em Ciências da Reabilitação e DOUTORANDA em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG e EDUCADORA PARENTAL em Disciplina Positiva certificada pela Positive Discipline Association.

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