Criança deitada no colo da mãe

Formas positivas de lidar com os erros das crianças

“De onde tiramos a ideia absurda de que para a criança agir melhor, ela precisa antes se sentir pior?”. Começo este texto com essa frase impactante da Dra. Jane Nelsen, criadora da disciplina positiva. É incrível como passamos uma vida inteira acreditando que, quando erramos, temos que sentir muita vergonha e culpa para, então, agir diferente da próxima vez. Também acreditamos que, se não sofrermos, não vamos aprender. 

Mas quando lemos essa frase da Jane, um novo mundo se abre. Por que precisamos nos sentir mal para, assim, agirmos melhor? Que motivação temos para fazer diferente da próxima vez quando estamos ajoelhados, cabisbaixos, de olhos fechados, sentados num buraco que abrimos dentro de nós a partir da culpa e da vergonha? Mal nos sentimos capazes de pensar em soluções já que, por conta da humilhação e do castigo, concluímos facilmente que somos péssimas pessoas.

Estou dizendo “nós” porque, antes de ter os nossos filhos, já vivemos essa sensação, seja quando crianças ou na vida adulta, diante de pessoas controladoras e abusivas em seu poder. Pensando nisso, torna-se mais fácil aprender a lidar com os erros das crianças.

Os erros das crianças e as crenças negativas

No fundo, sabemos exatamente como nossos filhos se sentem quando repetimos esse padrão da culpa. Sabemos o que estão aprendendo sobre eles mesmos quando lidamos com seus erros a partir de punições: “não sou bom o suficiente”, “eu não acerto nunca”, “meus pais não me amam”, “meus pais não se orgulham de mim”, “não sou um bom filho(a)”, “eu não sei fazer as coisas certas”. Eu não estou exagerando. Pode nos doer reconhecer essas crenças geradas a partir da punição, mas nós sabemos que não é um exagero.

Culpa + vergonha X Responsabilidade

Os adultos corajosos o suficiente para entrar em contato com a dor da própria criança interior sabem que já se sentiram exatamente assim. Brené Brown, uma escritora que eu admiro muito, distingue culpa + vergonha de responsabilidade. “Culpa + vergonha” é quando pensamos: “puxa vida, eu sou uma pessoa horrível, por que eu fiz isso errado?”. Responsabilidade é: “puxa, sou uma pessoa maravilhosa, mas fiz algo errado”.

Estamos lidando com os erros das nossas crianças gerando culpa/vergonha ou responsabilidade?

Sim, você leu responsabilidade. Para muitas pessoas, no início da jornada no mundo da educação com respeito, pode parecer que não vamos lidar com os erros das crianças ou que elas não precisarão lidar com isso. Não, essa é uma interpretação equivocada, que parte do nosso centro de medo de perder o controle e o poder.

Educação solta ou disciplina positiva?

Em nenhum livro de disciplina positiva ou temas relacionados, você vai encontrar algo dizendo que as crianças não precisam lidar com seus erros. Você vai encontrar formas respeitosas, objetivos de gerar crenças que minam a autoestima e a auto-confiança. Você vai encontrar sugestões para focar na resolução do problema, e não no problema.

Você vai encontrar sugestões de apoiar a criança a olhar para o seu erro como uma grande oportunidade de aprendizado, para que ela possa lidar com eles e, verdadeiramente; não por meio do sofrimento, castigo, punição e humilhação, mas pelo autoconhecimento, pela percepção das suas emoções diante do erro, do raciocínio do que poderá ser feito diferente da próxima vez. Tudo isso com muito respeito.

Lidar com os erros das crianças sob essa perspectiva que derruba padrões aprendidos durante uma vida inteira não é fácil, mas também não é impossível. Podemos começar praticando com a gente mesmo, quando erramos. Acolher nossos erros, olhar para eles como oportunidades de aprendizado, focar em soluções, são grandes passos para praticarmos essa lógica também com os nossos filhos. Precisamos, pelo menos, nos dar a chance de experimentar e, assim, começar a sentir a leveza de lidar com os erros como humanos que somos.

O que você achou dessa reflexão? Me conta aqui nos comentários.

Com amor, Mari.

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

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