Criança no campo segurando balões

Você tem deixado seu filho brincar?

Nos últimos tempos, tenho percebido nos meus atendimentos domiciliares muitas crianças com dificuldades no brincar que impactam em diversos aspectos o desenvolvimento infantil.

Parece estranho né, já que brincar é uma tarefa praticamente inata e que nos acompanha desde que damos os primeiros chutes na barriga das nossas mães.

Acontece que, por trás dessa dificuldade no brincar, relacionada à socialização, à capacidade de interagir com outras crianças, ao faz de conta, ao planejamento e sequenciamento das atividades, à curiosidade e à vontade de experimentar, está na verdade, uma dificuldade dos próprios adultos que convivem com as crianças.

Não estamos falando de culpa, mas de um limite interno com o qual muitos adultos não têm sabido lidar: o medo. O medo de deixar a criança experimentar, da criança se machucar, da criança não saber se resolver sozinha, da criança entrar em conflito. Enfim, medos e medos dos adultos que vêm interferindo num aspecto extremamente importante da infância e do desenvolvimento, o brincar.

Brincar envolve exploração, liberdade, criatividade. Brincar é aprender sobre o mundo através de si mesmo e dos outros, é descobrir seus próprios limites e o limite do outro. Brincar é tentar e ver que pode ir mais, ou tentar e ver que é preciso parar.

Se os adultos impedem ou restringem as crianças dessa experiência do brincar, não será possível para elas desenvolverem suas capacidades e potenciais, muito menos descobrir sobre o mundo como ele realmente é e saber lidar com ele.

Brincar não é ficar só no chiqueirinho, no carrinho, sentado de frente pra tv, ou jogando no tablet. Brincar é desbravar o chão da casa, do quintal, da praça, é comer fruta e se lambuzar, é balançar um objeto e ver no que vai dar, é montar, é ralar o joelho, às vezes dar com a boca no chão, é fazer bagunça, é correr na grama, pisar na areia, é ver bolinhas de sabão, é cantar, é fazer careta no espelho, é bater um objeto na mesa e escutar o som, é ouvir uma história, o barulho da chuva e a buzina do caminhão.

É preciso alertar os adultos sobre seus próprios medos e dificuldades. É preciso levá-los à reflexão sobre si mesmos, para que assim possamos devolver às crianças a chance de voltar a brincar e aprender sobre o mundo da forma mais natural que existe: experimentando!

Que tal? Vamos deixar nossas crianças brincarem? Vamos brincar junto?

Com amor,
​Mari

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Dra. Mariana Lacerda

Terapeuta ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação e Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela UFMG.

Uma abordagem baseada em afeto e respeito para transformar a educação de crianças e jovens.

Aprenda como lidar com as explosões emocionais das crianças de forma respeitosa e eficaz.

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